Pelo segundo ano consecutivo, o MEC altera a forma de divulgação do
resultado do Enem. Neste ano, só aparecem na lista as escolas em que mais da
metade dos alunos do terceiro ano fizeram o exame, e a média geral considera
apenas as provas objetivas, sem levar em conta a redação. No ano passado, a
composição da média incluía a redação e todas as escolas tinham a nota
divulgada, com o respectivo porcentual de participação.
São mudanças no formato de divulgação que impedem algumas comparações da
performance do resultado de 2011 com os anos anteriores e cuja pertinência
divide especialistas e escolas. Para a consultora Ilona Becskehásy, a decisão
do governo de não divulgar as notas de escolas com menos da metade de
participação contraria o princípio da transparência. "Tem de divulgar e
deixar a sociedade ponderar se poucos alunos podem representar toda uma
escola", diz.
Sem a divulgação massiva, acrescenta, os microdados ficam restritos aos
pesquisadores e não chegam à sociedade interessada. "Se sou pai, quero
saber tudo o que puder sobre o colégio do meu filho."
O pesquisador Chico Soares, especialista em avaliação e consultor do
Inep, afirma que o sistema ainda não está estável e que a forma de divulgação
ainda é um processo em construção. Mas, segundo ele, que participou do processo
de mudança, as regras implementadas neste ano foram salutares. "Quanto à
redação, ela tinha peso maior do que as outras matérias e isso não representava
bem o rendimento", diz.
Em relação ao porcentual de participação, o pesquisador é ainda mais
enfático. "O Enem mostra quem é a escola. Se alguém decide deixar os 50%
piores de fora, vai ter um retrato que não corresponde à realidade."
Soares atenua o fato de as alterações atrapalharem a comparação do rendimento
dessas escolas excluídas com os anos anteriores. "Se ela fica fora, os
pais vão perguntar e no ano que vem ela volta. É um processo em
aprimoramento", explica.
No Colégio Bandeirantes, em São Paulo, apesar de a maioria dos alunos
ter como meta os exames da USP, Unicamp e FGV, que não consideram o Enem, a
direção incentivou a participação. "Tentamos mostrar a eles que é um exame
nacional que avalia o currículo. Não podem ser tão imediatistas e só pensarem
no vestibular", diz Mauro.
A escola teve 72% de participação e uma das notas mais altas em redação
de toda a cidade. Apesar disso, Mauro acredita que excluir a redação na média é
uma boa alteração. "Todos os especialistas que conheço dizem que é muito
difícil avaliar uma quantidade tão grande de textos."
Segundo o MEC, o critério de correção das redações é subjetivo e não
pode ser comparado com as provas objetivas, baseadas na Teoria de Resposta ao
Item (TRI), um modelo que permite a comparação das provas de um ano com o
outro. "A correção da redação é muito subjetiva. Nós tentamos fazer algo o
mais objetivo possível", afirmou o ministro Aloizio Mercadante.
Estadão.com
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