Gianecchini demorou a
vencer o tabu da nudez em cena. O ator que não conseguiu ficar nu em duas peças
concordou em mostrar a sua intimidade na biografia “Giane - Vida, Arte e Luta”,
escrita pelo jornalista Guilherme Fiuza.
O livro, que será
lançado na terça, teve como motivação inicial contar a luta do ator contra o
câncer. Gianechinni confiou a missão ao autor de best-seller “Meu Nome Não É
Johnny”. Fiuza o convenceu de Reynaldo não cair na tentação de fazer “um livro
edificante de autoajuda”.
O biografado topou. “Essa
é uma batalha legal: ir se despindo na vida. E se despir, nesse caso, é viver a
sua verdade”, diz. Aos 40 anos, o galã global coloca-se quase nu em um “romance
verdade”. Escrita em tempo recorde, a obra contempla da infância em Birigui
(SP) ao estrelato.
Há espaço para os
amores e os boatos sobre a homossexualidade. “Giane não se escondeu nem
censurou nada”, afirma o autor. “Consegui falar da central de boatos em torno
dele de forma gostosa. Ele contou da esbórnia, dos momentos de celibato” Os
fatos estão lá, sem muitos detalhes. “Fiuza foi muito elegante ao retratar
algumas situações. Não queria ferir ninguém”.
Em “Cacilda!”,
dirigido por José Celso Martinez Corrêa, Gianecchini apareceu de terno e
gravata numa cena de orgia. Em “Boca De Ouro”, também pediu para não aparecer
pelado no palco. Encarou a parada no cinema, em “Entre Lençóis”, ao lado de
Paola Oliveira.
O livro mostra a
reação do ator ao ver o resultado. “Ele levou um susto. Numa cena, a câmera
roubava por alguns segundos um take do seu pênis, e o diretor mantivera essa
imagem no filme. Enfurecido, Giane não só mandou 'cortar a imagem' como fez a
produção redigir novo contrato”.
Gianecchini perdeu a
oportunidade de ficar com Carla Bruni. A ex-primeira-dama da França, mulher de
Nicolas Sarkozy, encantou-se pelo modelo brasileiro em um desfile na Suíça. “Meus
amigos não me perdoam por isso. Nem eu”, lamenta-se.
Durante as gravações
de “Laços de Família” (2000) no Japão, Gianecchini e Vera Fischer,
protagonistas da trama de Manoel Carlos, trocaram beijos fora do set. “Na
viagem, tinha pouco texto, muito passeio e bom saquê. O romantismo dos
personagens contagiou os atores”.
O relato prossegue: “Num
jantar no hotel, Vera beijou Giane como [a personagem] Helena beijava Edu”. A
Globo montou uma operação abafa.
O CASAMENTO COM MARÍIA GABRIELA
Marília Gabriela e
Giane se conheceram em Paris em plena Copa do Mundo da França, em 1998. O “affair”
entre a famosa apresentadora e o modelo desconhecido atravessou continentes. “A
rodada americana do romance confirmou a intensidade da europeia. Ela pegaria um
avião para onde ele estivesse. Viram a lua de Los Angeles e resolveram
formalizar o calendário: se encontrariam sempre nas luas cheias”.
A união durou oito
anos. “Achei muito linda a forma como ele retratou o fim. Eu me emocionei
quando li”, diz Gianecchini. O epílogo é resumido assim: “Após a travessia
entre o banheiro e a cozinha, o matrimônio passava à exumação no closet... Os
dois fizeram juntos, peça a peça, a desocupação do hemisfério dele. Dormiram
abraçados. Acordaram, choraram juntos diante do elevador... Agradeceram a sorte
de terem sido um do outro”.
FAMA DE GAY
A origem do boato em
torno da suposta homossexualidade do ator é atribuída a uma amante. A segunda
menção é sobre a fofoca de que ele teria tido um caso com o caçula de Marília
Gabriela.
“Uma versão recuaria
até os tempos de modelo de Giane em Paris, sustentando que, para entrar no tal
triângulo familiar, ele abandonara um amante francês”, escreveu Fiuza. O biógrafo passa também
pela fase baladeira do ator. “Aos 34 anos, começava a revanche, com juros, da
juventude casta”. A estreia foi no Carnaval da Bahia. “Em Salvador, durante os
seis dias que abalaram seu mundo, Giane fizera de tudo, menos dormir...Trio
elétrico, festa, cama a dois, barco, festa, trio elétrico, cama a mais de dois,
praia, cerveja para rebater a vodca, sol, lua e cama”.
A festa foi
interrompida com o diagnóstico de um tumor agressivo, tratado no hospital
Sírio-Libanês. Impressiona a descrição dos efeitos colaterais da quimio.
“Parecia ter engolido
uma bomba atômica. Boca, língua e lábios eram tostados pelo fogo invisível.
Sentia sede, mas a água caía no estômago como ácido e voltava em jato boca
afora. Respirar também era perigoso. O ar entrava como spray de pimenta”.
O ator sofreu uma
parada respiratória ao ter a veia perfurada na colocação de um cateter, em
procedimento feito pelo cirurgião Raul Cutait.
O relato da mãe ao
vê-lo dá a medida da gravidade: “O homem deitado à sua frente tinha rosto
redondo, bolachudo, amarelado, quase sem pescoço, nenhum desenho de maxilar,
lábios muito grossos, fisionomia estranha e inexpressiva. Desfigurado”.
Uma luta constante
era contra os vazamentos para a imprensa. A biografia faz referência à
proibição imposta ao infectologista David Uip de dar declarações sobre o caso.
A amiga Cláudia Raia chegou a discutir uma conta cobrada indevidamente.
Em 21 de janeiro
deste ano, Gianecchini renascia. “Giane era um homem de 500 neutrófilos”,
informou o hematologista Vanderson Rocha. Traduzindo: as células do sistema
imunológico tinham se multiplicado velozmente, sinal de que ele ganhara uma
nova medula. A luta estava vencida. “Estou feliz de ter sobrevivido para contar
e de ter essa história retratada de forma tão honesta”, diz o ator.
TRECHO DE “GIANE - VIDA, ARTE E LUTA”:
“Uma das mulheres com
quem estava saindo escondera dele que era casada. O marido descobrira, ficara
possesso... Mas não voltaria mais a rondar seu prédio de revólver em punho. A
esposa o acalmara com uma explicação simples: dissera a ele que Giane era gay”.
“Cláudia Raia passou
a discutir tudo, até as contas. [...] Entre os itens mais custosos estava o
pagamento do pneumologista. Fez apenas uma observação: o pneumologista tinha
sido necessário por um problema causado pela cirurgia, que aliás pusera a vida
de Gianecchini em risco. Ela sentia dizer, mas a conta não seria paga”.
GIANE - VIDA,
ARTE E LUTA
AUTOR Guilherme Fiuza
EDITORA Primeira
Pessoa
Colaboração de Eliane
Trindade
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