Circulam por aí
frases jamais ditas e não raro atribuídas a alguém que não seu autor. O que
produz algo insólito: pode acontecer que a frase mais conhecida de um autor não
seja de sua autoria.
É o caso do
recente chiste de Obama, que teria chamado Lula de “o cara”. O equívoco foi
consagrado pelo retratado e seus marqueteiros, sequiosos de fama e fortuna e,
no fundo, movidos por aquilo que Nelson Rodrigues chamava de “complexo de
vira-lata”. Não há nada que encante mais a brasileiros – rendendo popularidade
– do que elogios vindos do exterior.
Obama não disse
que Lula é o cara. Referiu-se a ele como “my man” – em português, algo como meu chapa. No entanto, para todo o
sempre será repetido que Obama o chamou de o cara. Pegou,
não tem jeito, não desgrudará jamais.
O mesmo se deu com
a frase que todos pensam ter ouvido no filme Casablanca: “Play it again, Sam.”. A verdade é que essa frase
não é dita no filme. Ilse (Ingrid Bergman) diz: “Play
it once, Sam, for old time sake. Play
it, Sam. Play As Time Goes By”.” E Rick (Bogart) pedirá a Sam: “You played it for her, you can play it
for me”.
Como se vê, a
versão é bem melhor do que o fato. “Play
it again, Sam” tem a força dos diálogos fulminantes, contundentes,
definitivos. Por isso a frase consagrou-se e todos juram que a ouviram.
Quando Jânio
Quadros renunciou, em agosto de 1961, talvez depois de uma dose mal calculada
de Johnny Walker, teria dito que fora levado àquele ato por “forças ocultas”.
Ótima expressão, mas, ainda que Jânio fosse cultor de um vocabulário rebuscado
e pedante, ou por isso mesmo, não a cunhou. E tentou desmentir, diga-se, sem
sucesso. Consagrou-se a expressão forças ocultas, bem melhor, aliás, do que
tais “forças terríveis” que Jânio de fato usou.
O mesmo acontece
com certas interpretações dadas como definitivas. Arthur Clark, em 2001, uma odisséia no espaço, deu ao
computador da história o nome de HAL. Os paranóicos de plantão, imaginando
conspirações por toda parte, sacaram a exegese perfeita: seria uma referência à
IBM, o monstro multinacional da época, pois o nome HAL é formado pelas letras
que no alfabeto antecedem as letras IBM. De nada adiantou Arthur Clark
desmentir, por escrito ou em entrevistas diversas, explicando que HAL
significava apenas Heuristic
Algorithmic. Consagrou-se, não há o que fazer. O próprio Clark cansou de
desmentir. Desconfio que no fundo aceitou a versão.
Há equívocos muito
antigos, vindos do século XVI, como a frase “Mateus, primeiro os teus”. É
citada como sendo da Bíblia. Não é. Aliás, é pouco compatível com o ideário
altruísta da religião. A explicação do equívoco está num livrinho de João
Ribeiro, Frazes feitas, de
1901, onde ele diz que se trata de uma criação popular moldada sobre o vocábulo
medês (mesmo): “começar por si medês a caridade”. Mas Ribeiro lembra que
Mateus, antes de se converter, teria sido agiota. Logo, a invenção popular pode
ser a melhor.
O general De
Gaulle, quando da Guerra da Lagosta entre França e Brasil, teria dito que o
“Brasil não é um país sério”. Se não disse, deveria ter dito, pois de qualquer
forma a frase se consagrou. É claro que ele desmentiu – mas quem leva a sério
desmentidos de políticos? O fato é que a frase, apoiada no mesmo complexo de
vira-lata que habita corações e mentes de brasileiros, ficou para sempre.
Por fim, um
exemplo clássico. Quando se fala em Sherlock Holmes, há sempre quem dispare a
frase perfeita: “Elementar, meu caro Watson”, que não consta de nenhum livro de
Connan Doyle, o criador de Sherlock Holmes. Aliás, sendo o narrador das
aventuras de Sherlock, o doutor Watson não daria essa mancada. Foi inventada
pelo cinema e, tire-se o chapéu, é ótima. Doyle assinaria.
Fonte: criaredicoes.com.br/
Por: Roberto Gomes
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