Uma fruta verde de
tamanho médio e cheiro forte está entrando na rotina de muitas pessoas que
vivem na Região Metropolitana do Recife - PE e sofrem dos mais variados tipos
de doenças. O NONI, como é chamado o fruto da árvore Morinda Citrifolia,
pode ser encontrado facilmente em feiras livres e mercados públicos e tem sido
utilizado por pessoas que sofrem desde dores de cabeça até pacientes com
diabetes. No entanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
impede a importação, comercialização e uso de produtos derivados da fruta. De
acordo com a agência, os estudos científicos realizados até o momento, apesar
de não conclusivos, revelam alguns casos de danos ao fígado e aos rins.
O noni é
originário do Sudeste asiático e costuma ser encontrado largamente no Taiti, ilha
da Polinésia. Apesar de, supostamente, ter efeitos terapêuticos e medicinais,
produtos derivados da fruta têm a comercialização proibida no Brasil. A empresa
norte-americana Morinda, que produz o suco Tahitian Noni, encerrou as operações
no país em maio de 2009, alegando ser alvo de “muitas exigências dos órgãos
governamentais”.
Os vários produtos
da empresa, incluindo o suco, continuam sendo comercializados em cerca de 30
países, incluindo alguns sul-americanos como o Uruguai, Chile, Peru e Paraguai.
Para a Anvisa, não há respaldo científico para as supostas propriedades
medicinais ou terapêuticas do noni. “São falaciosas as promessas de cura com
base no consumo”, diz a agência.
A nutricionista e professora da faculdade Maurício de Nassau Ana Lígia Lins explica que o noni se encaixaria na categoria de alimento funcional, aquele que traz benefícios além dos meramente nutricionais. No entanto, há uma carência de comprovações dos benefícios da fruta. “Essa comprovação requer várias etapas, como a quantidade a ser ingerida, a toxicidade do produto. O noni não tem essas comprovações, portanto não há propriedade para prescrevê-lo a um paciente”, afirma.
A nutricionista e professora da faculdade Maurício de Nassau Ana Lígia Lins explica que o noni se encaixaria na categoria de alimento funcional, aquele que traz benefícios além dos meramente nutricionais. No entanto, há uma carência de comprovações dos benefícios da fruta. “Essa comprovação requer várias etapas, como a quantidade a ser ingerida, a toxicidade do produto. O noni não tem essas comprovações, portanto não há propriedade para prescrevê-lo a um paciente”, afirma.
Ana Lins, todavia,
ressalta que não há restrição ao consumo saudável do alimento (uma fruta a cada
dois dias, por exemplo), quando o noni é parte integrante de uma dieta, assim
como qualquer outro alimento. O problema, diz ela, está no fato de tratar a
fruta enquanto remédio: “As pessoas costumam consumir o suco de noni
acreditando que ele fará milagre, argumentando que é algo natural. Também
existe veneno natural. Ainda há vários questionamentos sobre o noni a serem
respondidos”, pondera.
O noni é
encontrado facilmente nos mercados públicos e feiras livres da Região
Metropolitana do Recife. O preço, no entanto, não é dos mais convidativos. No
Mercado de São José, no centro da capital pernambucana, é possível encontrar o
quilo da fruta por R$ 15. No centro de compras, ainda dá para achar abertamente
vitaminas e extratos de noni, cuja venda é proibida. O preço é mais acessível
do que o da fruta: uma garrafa com 500 ml sai por R$ 10.
Na área comercial
do bairro de Ouro Preto, em Olinda, o quilo da fruta sai mais barato: R$ 12. Há
também outros locais onde o noni pode ser achado. O funcionário público Geraldo
Clemente conta que costuma comprar no Mercado de Cavaleiro, em Jaboatão dos
Guararapes.
De acordo com a
Anvisa, como se trata de uma fruta que não tem histórico de uso no Brasil, o
órgão proíbe a comercialização de qualquer alimento que contenha noni. Um
informe técnico publicado pela agência em 2001 afirma que a avaliação da
segurança referente ao consumo de noni deve ser baseada em critérios rígidos.
“É notória, ainda, a falta de estudos sistemáticos avaliando o suco de noni em
humanos nos países onde o produto é comercializado”, diz o documento.
Ainda de acordo com a Anvisa, a fiscalização é de responsabilidade dos órgãos estaduais e municipais competentes. As multas por infração sanitária no Brasil variam de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão. O valor é determinado por quem fiscaliza e varia de acordo com cada ocasião.
Ainda de acordo com a Anvisa, a fiscalização é de responsabilidade dos órgãos estaduais e municipais competentes. As multas por infração sanitária no Brasil variam de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão. O valor é determinado por quem fiscaliza e varia de acordo com cada ocasião.
O gerente-geral da
Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), Jaime Brito, disse não
poder fazer nada quanto ao fato de as pessoas produzirem o suco de noni em
casa, de forma artesanal, mas afirmou que a fiscalização na rua será reforçada.
“Nós já havíamos dado informações à população sobre a proibição da venda desses
produtos (extratos, vitaminas, sucos). A partir de agora, vamos intensificar a
fiscalização para impedir que estabelecimentos sigam comercializando material
proibido”, afirmou.
A assessoria de
comunicação da Secretaria de Saúde do Recife informou que cabe à Vigilância
Sanitária municipal inspecionar o comércio de alimentos. A prioridade são os
estabelecimentos que oferecem maior risco, como farmácias, hospitais, fábricas
de gelo e restaurantes em geral. O Distrito Sanitário I, responsável pelos
bairros da área central da capital, comprometeu-se em realizar inspeções nos
mercados públicos da cidade, incluindo o de São José. As penalidades para quem
for flagrado comercializando produtos proibidos variam de advertências e
interdição do estabelecimento até multa.
DEPOIMENTOS DE DEFENSORES DO
NONI
O
taxista Paulo César Tavares, 44 anos, é um dos que defende a fruta.
Diagnosticado com diabetes há três anos, ele enumera uma série de melhorias
conquistadas desde que começou a tomar o suco de noni, forma mais popular de
consumo. Tavares prepara a bebida por meio de uma mistura com uva. “Com apenas
três semanas, eu perdi uns 5 kg e minhas taxas de glicose começaram a cair. As
roupas estão todas frouxas”, conta. O taxista costuma comprar a fruta no bairro
de Ouro Preto, em Olinda.
O
radialista e funcionário público Geraldo Clemente, 52 anos, é outro defensor do
noni. Ele virou consumidor da fruta há cerca de um ano, quando procurava uma
forma de resolver problemas na próstata. “Conheci por meio de um colega, aí fui
pesquisar na internet. Como a ‘garrafada’ era muito cara, resolvi plantar umas
sementes e fazer tudo em casa mesmo”, conta. Clemente, morador de Tejipió, Zona
Oeste do Recife, tem três pés do fruto no quintal e prepara dois litros da
“garrafada”, usando três nonis e 50g de uvas pretas.
Ele perde as contas quando enumera os benefícios conquistados desde que começou a beber o suco com frequência: disposição sexual, boas taxas de colesterol e triglicerídios, além de ter curado a incontinência urinária, decorrente da doença na próstata. “Coloco dois dedinhos num copo e tomo pela manhã, em jejum, e também à noite, antes ou depois do jantar. Os resultados são tão bons que nem tomo mais a medicação receitada pela urologista”, afirma.
O taxista Paulo César Tavares começou a tomar o suco de noni no começo de março e também pretende cultivar a fruta por conta própria. Assim como Clemente, o condutor só enxerga benefícios ao falar das propriedades do noni. “Eu era depressivo, não conseguia acordar cedo. Agora, levanto às 4h30 todos os dias e nem tiro mais um cochilo depois do almoço, como sempre fazia”, conta.
Fonte: g1.globo.com/pernambuco/noticia
Por: Renan Holanda
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