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Adepto da tese segundo a qual “o réu não pode arcar
com a ineficiência do Estado”, o ministro Gilmar Mendes é relator de um recurso
especial originário do Rio Grande do Sul. Envolve um ladrão. Roubou de uma
pessoa R$ 1.300 e um telefone celular. Agrediu a vítima. Foi condenado a cinco
anos e oito meses de cadeia em regime semiaberto. Deveria ter sido recolhido a
uma colônia agrícola ou industrial. Não havia vagas. E o Tribunal de Justiça
gaúcho atenuou-lhe o castigo, mandando-o à prisão domiciliar.
Inconformado o Ministério Público recorreu ao STF
para tentar impor ao condenado a cadeia em regime fechado em vez do refresco
domiciliar. No Supremo, o caso será julgado sob as regras da “repercussão
geral”, uma ferramenta processual que faz com que a decisão da Corte suprema
seja aplicada em casos idênticos nas instâncias inferiores do Judiciário.
Gilmar Mendes decidiu submeter a encrenca ao plenário do tribunal. Antes, fará
uma audiência pública para esmiuçar o tema. Será nos dias 27 e 28 de maio.
Gilmar admitiu que o julgamento pode resultar em
benefício para cerca de 30 mil prisioneiros sentenciados ao regime semiaberto.
Podem migrar para uma condição melhor do que a do ladrão gaúcho. “Em muitos
casos pode significar até não aplicar qualquer pena”, disse o ministro. Os
juízes converteriam as sentenças em castigos alternativos. Entre os potenciais
beneficiários estão 11 dos 25 condenados do mensalão. Entre eles José Genoino,
Roberto Jefferson e Valdemar Costa Neto.
O próprio Gilmar reconhece que a eventual liberação
de tantos presos trará “graves consequências para todo o sistema” prisional.
Aguçará no brasileiro o “sentimento de impunidade.” Daí sua decisão de
escancarar o caso numa audiência pública. O debate abrangerá outras mazelas do
sistema carcerário. Segundo o ministro, há no Brasil 540 mil presos (eram 95
mil em 1995). Desse total, 40% são “presos provisórios”. Gente que foi em cana “sem
uma decisão judicial condenatória.” Alguns há mais de uma década –11 anos num
caso detectado pelo Conselho Nacional de Justiça no Espírito Santo; 14 anos num
processo do Ceará.
Gilmar voltou a ironizar comentário feito pelo
ministro petista da Justiça, José Eduardo Cardozo. Em novembro do ano passado,
no auge do julgamento do mensalão, o auxiliar de Dilma Rousseff tachara de
“medieval” o sistema prisional. Dissera que, se fosse condenado a uma pena
longa, preferiria morrer a ser recolhido a uma cadeia brasileira. E Gilmar: “Se
fosse o ministro da Saúde falando do sistema prisional, nós diríamos: é apenas
uma opinião. Mas ele [Cardozo] é o único ator que de fato pode conseguir mudar
esse quadro e coordenar os esforços.”
Para Gilmar, “a União está em déficit na temática
da segurança.” E quem mais padece são os réus pobres. “Temos um sistema de
assistência judiciária altamente deficiente”, diz o ministro. “Há hoje no
Brasil algo em torno de 5 mil defensores públicos. Se eles se dedicassem apenas
aos presos dos 540 mil talvez 90% sejam pessoas pobres muito provavelmente não
haveria como atender à demanda.”
Fonte: uol.com.br/
Por:Josias de Souza
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