Os programas de
pós-graduação (PPGs) interdisciplinares são os que mais crescem no País desde
1999, quando a área interdisciplinar foi criada na Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do Ministério da
Educação (MEC) que autoriza e avalia esses cursos no País. A área é também a
maior na Capes hoje, com 296 programas e 374 cursos - cada programa pode
incluir mestrado e/ou doutorado. Apesar do crescimento, até 2012, a maior parte
dos cursos interdisciplinares (54%) ainda tinha a nota mínima, 3, segundo o
último relatório trienal da Capes. Nenhum alcançou a nota máxima, que é 7.
Segundo o
professor dos programas de pós-graduação em Desenvolvimento Rural, que é
interdisciplinar, e em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), Jalcione Almeida, entre os motivos que explicam as baixas notas estão
a pouca idade dos cursos e o fato de a prática interdisciplinar ser recente nas
universidades. “Esses cursos surgem, em boa medida, em centros universitários
fora dos grandes eixos, com uma espécie de agrupamento de intelectuais de
diferentes áreas, pois as pequenas universidades não conseguem montar um curso
disciplinar com poucos professores”.
Além disso, ele
explica, as exigências da Capes para a qualidade dos programas é alta. “Os
cursos têm de correr atrás para ter uma equipe docente que dê conta e uma
proposta que seja alinhada”.
Já para Marlize
Rubin Oliveira, professora do programa de pós-graduação em Desenvolvimento
Regional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), o fato de a
avaliação e o financiamento fazerem parte do mesmo processo pode influenciar as
notas. “É uma novidade desde a década de 1990 que a avaliação e o financiamento
façam parte do mesmo processo. Há um volume de dinheiro para ser distribuído
conforme as notas”.
Segundo Marlize,
os critérios de avaliação ainda são muito pautados por análises disciplinares e
isso prejudica a área. “Avaliar cursos interdisciplinares com critérios
disciplinares acaba penalizando esses cursos. Isso vem evoluindo, mas o segundo
grande passo pelo qual a área passará será cada vez mais ser avaliada por critérios
interdisciplinares”.
Para o diretor de
avaliação da Capes, Lívio Amaral, a média dos novos cursos e de novas áreas,
quando criados, é menor em relação àquelas que existem há muito tempo e estão
consolidadas. “Áreas novas, quando foram criadas, não tinham notas altas, 6 e
7, justamente porque elas são dadas com base em uma referência e uma
identificação. Em uma área nova, nem o curso nem a comunidade sabem exatamente
como distinguir essa identidade e a qualificação dentro dessa identidade. Isso
não aconteceu só em Interdisciplinaridade, mas em Biomedicina e Biotecnologia
também, por exemplo”, afirma.
História. A área nasceu em 1999, com o nome de Área Multidisciplinar, por
demanda de um grupo de programas que estava mal avaliado em suas áreas porque
apresentava aspectos multi e interdisciplinares. Depois, foi criada uma
comissão para avaliar os programas, considerando a formação diversa dos
professores - principalmente aqueles vindos de universidades que tinham corpo
docente restrito - e a realidade dos objetos de pesquisa contemporâneos, que
exigem a ampliação dos campos de análise. Em 2008, a área passou a se chamar
Interdisciplinar.
O grupo mais
representativo no processo de criação da área foi o dos programas de Meio
Ambiente. “O nascimento desses programas foi incentivado principalmente pela
(Conferência) Rio-92, pois a discussão ‘sociedade e natureza’ estava muito
pungente naquela época”, explica Marlize.
A consolidação
desses cursos fez com que nascesse da área interdisciplinar uma outra: a de
Ciências Ambientais. Entre 2009 e 2010, 47 cursos migraram das
interdisciplinares para as ambientais.
Em 2012, a área
interdisciplinar estava dividida em quatro câmaras temáticas: Sociais e Humanidades
(30% dos cursos); Engenharia, Tecnologia e Gestão (24,5%); Saúde e Biológicas
(23,6%); e Desenvolvimento e Políticas Públicas (21,9%). Essa mesma
configuração se mantém até hoje.
Há dois anos, a
área passou a ter programas em todos os Estados. O número aumentou, mas a
distribuição porcentual por região teve pouca variação. A maior parte dos
programas em 2012 estava concentrada no Sudeste, um total de 119. O Estado mais
representativo é São Paulo, com 60 programas, seguido do Rio de Janeiro, com 36.
A Região Norte, embora seja a que tem menos cursos (24), é a que mais cresce:
84,6% entre o triênio 2007-2009 e 2010-2012.
Crescimento. Para quem está em um programa interdisciplinar, a possibilidade de
analisar um mesmo objeto de pesquisa sob a esfera de diferentes áreas do
conhecimento é um reflexo da realidade social e também da academia.
Fonte: estadao.com.br
Por: Bárbara Ferreria Santos
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