O plenário do
Supremo Tribunal Federal (STF) absolveu nesta quinta-feira (24) o ex-presidente
da República e senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) das acusações de
peculato, corrupção passiva e falsidade ideológica.
Segundo a denúncia
do Ministério Público, Collor teria recebido propina de empresários do setor de
publicidade em troca de benefícios em contratos. Conforme a acusação, o
dinheiro era usado para pagar contas pessoais do ex-presidente, como a pensão
de um filho fora do casamento.
As acusações de
falsidade ideológica e de corrupção já estavam prescritas e, de qualquer forma,
não poderia mais haver punição em razão do tempo decorrido dos fatos.
Dos oito ministros
que votaram, três consideraram que os crimes que prescreveram nem deveriam ser
julgados (Teori Zavascki, Rosa Weber e Joaquim Barbosa). Os outros cinco
votaram pela absolvição (Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luís Robero Barroso, Luiz
Fux e Ricardo Lewandowski).
Os ministros Marco
Aurélio Mello, que é primo de Collor, Gilmar Mendes e Celso de Mello não
participaram do julgamento.
A denúncia foi
recebida pela Justiça comum, e o caso chegou ao Supremo em 2007, quando Collor
assumiu o mandato de senador. O processo estava sob a relatoria do ministro
Menezes Direito, que morreu em 2009.
Em 2009, a
relatora passou a ser a ministra Cármen Lúcia. O processo ficou quatro anos no
gabinete de Cármen Lúcia e, em novembro de 2013, ela enviou para Dias Toffoli,
que é revisor da ação penal. O processo foi liberado no fim do ano passado para
julgamento.
A vice-procuradora
da República Ela Wiecko pediu que Collor fosse condenado pelos desvios por
conta da “teoria do domínio do fato”. Para ela, não havia possibilidade de o
acusado não ter conhecimento das irregularidades.
A relatora da
ação, ministra Cármen Lúcia, destacou que não ficou provado que o ex-presidente
tinha conhecimento de desvios. “Só tem o domínio do fato quem tem conhecimento
do fato. O MP tem que ter prova disso para que não se tenha leitura equivocada.
Não se cuida de uma denúncia que pode ser tratada como primor de peça”.
O presidente do
Supremo, ministro Joaquim Barbosa, disse que, embora a mãe da criança tenha
confirmado que recebeu dinheiro de envolvidos, não há prova de “relação direta”
do ex-presidente.
“A mãe confirmou
que recebeu recursos por intermédio desses fatos. Há pelo menos mais do que
indícios. O que falta? É a relação direta dele, do ex-presidente, com aquela
prova que o ligaria diretamente. Há uma ligação indireta. [...] O que realmente
falta é a prova definitiva da ordem, da determinação dele.”
“Uma das áreas que
eu acho que nós ainda não estamos conseguindo funcionar bem é a do sistema
punitivo. No Brasil, entre truculência e impunidade, o grande traço constante
tem sido a demora, a absoluta morosidade em que os processos tramitam. Punir
alguém em 2014 por fatos ocorridos em 1991, na minha visão, seria quase como
punir outra pessoa, passado tanto tempo.”
Ao final do
julgamento, Joaquim Barbosa foi perguntado sobre a demora do julgamento e
respondeu: “Eu acho que isso é um retrato de como funciona a Justiça criminal
brasileira”.
Hoje dia 28 de abril o ex-presidente Collor diz que absolvição pelo STF “reescreve”
a história do Brasil.
Ele afirmou ainda
que decisão do STF irá “passar a limpo o país”.
“O resultado, nem
sempre produzido pelos meios na mesma proporção das notícias precedentes ou com
a mesma fidedignidade dos fatos, covardia, isto é, covardia, veio não apenas me
aliviar das angústias que tenho vivenciado nos últimos 23 anos, mas,
igualmente, veio reescrever a história do Brasil na parte referente ao período
em que exerci, com muito orgulho e honra, pelo voto direto de todos os
brasileiros, a Presidência da República Federativa do Brasil”, declarou o ex-presidente.
Collor disse que
seu advogado de defesa, “em nenhum momento do julgamento no Supremo”, usou a
prescrição dos crimes como objeto de defesa. “Era do meu desejo o julgamento
integral”, afirmou.
“São anos, anos e
anos de angústia e padecimento", disse Collor. “Enquanto não absolvido,
restará sempre ao denunciado a pecha de réu, de acusado, e a recorrente dúvida
de todos em relação à sua honestidade e à sua inocência. Nada mais desumano
para quem tem a consciência limpa e correta”, completou.
No plenário do Senado, Collor comentou críticas feitas pelo presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, sobre o tempo que o processo levou para ser julgado. “Se, no Brasil, a Justiça como um todo padece de letargia, como ele próprio [Joaquim Barbosa] reconheceu ao final de meu julgamento, o Presidente da mais alta Corte judicial carece de liturgia”, disse Collor.
No plenário do Senado, Collor comentou críticas feitas pelo presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, sobre o tempo que o processo levou para ser julgado. “Se, no Brasil, a Justiça como um todo padece de letargia, como ele próprio [Joaquim Barbosa] reconheceu ao final de meu julgamento, o Presidente da mais alta Corte judicial carece de liturgia”, disse Collor.
O senador disse
ainda que o presidente do STF “desdenhou”, “com descaso e falta de postura” da
absolvição. “Mais grave que isso”, continuou Collor, “foi a tentativa de
Barbosa de resumir, de forma desmerecedora e embaraçosa o enredo do julgamento”.
G1.com
Por: Mariana
Oliveira (24/04)
Priscilla Mendes (28/04)
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