Se a Lua é mesmo capaz de inspirar os
apaixonados, neste domingo prepare-se para paixonite aguda. Teremos o que os
astrônomos (ótimos de ciência, péssimos de marketing) chamam de “Lua cheia no
perigeu”. Ou, muito mais popularmente, uma “superlua”.
O fenômeno é resultado do fato de que a Lua
muda de tamanho no céu constantemente ao longo dos dias. Isso acontece porque
sua órbita não é perfeitamente circular, mas sim ovalada - uma elipse. Nessa
trajetória que ela leva cerca de 28 dias para completar, em certos momentos o
satélite natural fica mais perto da Terra, noutros mais distante. O
momento de máxima aproximação é chamado de “perigeu”, e o de maior
distanciamento é o “apogeu”. Quando a Lua cheia coincide mais ou menos com
o período de proximidade máxima, temos aí a tal “superlua” - termo que na
verdade foi cunhado por astrólogos (ótimos de marketing, péssimos de ciência) e
agora pegou.
No caso deste domingo, temos a seguinte
coincidência: a Lua atinge o perigeu, ficando a “apenas” 356.896 km da Terra,
às 14h44. Poucos minutos depois, às 15h11, ela se alinha perfeitamente na
direção oposta ao Sol, atingindo a fase cheia.
Resultado: quando ela despontar no
horizonte, exatamente oposta à região onde o Sol se põe (procure por ela no
leste depois do poente), estará não só cheia e resplandecente, mas tão grande
quanto ela pode aparecer no céu, exatamente 14% maior (e 30% mais brilhante) do
a mesmíssima Lua cheia, só que ocorrendo no apogeu (cerca de 50 mil km mais
distante).
Prepare-se para um espetáculo incrível. Se
você pegar a Lua ainda perto do horizonte, onde possa comparar com objetos no
chão, você a verá como se estivesse muito grande - certamente maior do que os
14% sugerem. E aí o fenômeno não é o da “superlua”, mas é o da “superilusão de
óptica”. Ninguém sabe explicar direito por quê, mas é fato que, quando vemos a
Lua perto do horizonte, ela parece ser muito maior do que quando está no alto
do céu. (A melhor explicação que ouvi para isso é que, no processamento visual,
ter outros objetos de tamanho conhecido na cena faz nosso cérebro recalibrar
sua percepção do tamanho do disco lunar no céu, mas ninguém bateu o martelo a
esse respeito.)
Na real, se você for pensar a superlua nem é
tão espetacular assim. Se ela é 14% maior que a menor Lua cheia possível, se
comparada com uma Lua cheia média, ela vai ser apenas 7% maior. E 7% é quase
nada. Tão pouco que, durante milhares de anos, seres humanos olharam para o céu
e jamais chegaram a imaginar que a órbita lunar pudesse ser elíptica, em vez de
circular. E estamos falando de um pessoal que tirava medidas precisas da
posição dos astros na abóbada celeste, embora ainda não dispusesse de
telescópios. (Johannes Kepler propôs as órbitas elípticas no mesmo ano em que
Galileu Galilei fez as primeiras observações telescópicas do céu, em 1609.)
Tem mais: a superlua não é um fenômeno raro.
Acontece todos os anos, mais de uma vez por ano. Esta de domingo é um pouco
mais rara que a média, dada a proximidade particular do perigeu e o grau de
proximidade com o momento da fase cheia (uma “super-superlua” talvez?), mas
mesmo esta acontece a cada 13 meses e 18 dias. A próxima superlua acontece em 9
de setembro deste ano e a próxima super-superlua, em 28 de setembro do ano que
vem, quando a Lua atingirá um perigeu de 356.876 km (20 km mais perto que
neste domingo) e, 1h05 depois (38 minutos a mais que neste domingo), chegará à
fase cheia.
Quer saber de uma coisa que só acontecerá
agora e não nas outras superluas? Às 15h16 deste domingo, a espaçonave ISEE-3
vai passar a apenas 15 mil km da superfície lunar. Trata-se de um velho
satélite da Nasa, lançado em 1978, que ganhou sobrevida recentemente, quando um
grupo de amadores nos Estados Unidos ressuscitou o veículo e fez um acordo com
a agência espacial para operá-lo. É a primeira missão de espaço
profundo realizada pela iniciativa privada. De início, o plano era
manobrar a espaçonave para mantê-la nas imediações da Terra, mas o esgotamento
dos tanques de combustível impediu o procedimento. Ainda assim, a nave, que já
está recolhendo dados científicos, permanecerá em operação pelo grupo, colhendo
dados enquanto evolui em sua própria órbita em torno do Sol.
E, claro, se por acaso você perder
a Lua no domingo, ela ainda estará exuberante nos próximos dois dias, quando ganhará
a concorrência por atenção de uma das mais prolíficas chuvas de meteoros anuais
- as perseidas.
Fonte: folha.uol.com
Por Salvador
Nogueira
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