Quem nunca
ouviu falar no Grupo Dominó? Sucesso nos anos 80 e 90 o Grupo era formado por Lenilson
dos Santos (Nill), Afonso Nigro, Marcos Quintela e Marcelo Rodrigues. O
Ex-Dominó conversou com Vinícius Ferreira direto para o iG.
Para quem era
adolescente nos anos 80 e 90, é impossível não olhar para Nill, ex-integrante do grupo
“Dominó”, sem pensar, mesmo que por um instante, nos sucessos “P da Vida”, “Companheiro”
e “Manequim”. Hoje, 23 anos depois de sua saída da boyband, em outubro de 1989,
quando decidiu seguir carreira solo, Nill não é mais um popstar, e se orgulha
disso. “Não sinto falta da fama, porque
ela trouxe mais aspectos negativos do que positivos para a minha vida. Hoje
ocupo meu tempo com a divulgação do Evangelho de Jesus Cristo.”
Aos 42 anos, o
ex-cantor é agora pastor da religião evangélica. Formado em Direito pela
Universidade do Vale do Paraíba e em Teologia pelo Centro de Estudos Teológicos
do Vale do Paraíba, ele atua também como advogado e professor universitário.
Pastor Nill atendeu ao pedido de entrevista do iG e, em um papo sincero,
lembrou momentos da carreira, das cobranças do período de Dominó, das boas
coisas que viveu ao lado do grupo e dos arrependimentos. “Durante os últimos
anos de Dominó, permaneci mais por pressão externa do que por vontade própria.”
iG: Como está sua vida hoje?
Nill: Estou bem, graças a Deus. Desde que retornei para Cristo
em 1993, muita coisa mudou em minha vida. Hoje ocupo meu tempo com a divulgação
do Evangelho de Jesus Cristo por todo o país, com meu trabalho voluntário em
minha igreja local (Curitiba) e com minha profissão. (Nill é Pastor Voluntário
e Líder do Ministério dos Homens da Primeira Igreja Batista de Curitiba e Pastor
Voluntário do Ministérios Advogados Cristãos e Amigos).
iG:
Está casado? Tem filhos?
Nill: Já fui casado e não tenho filhos.
iG: Você diz em seu livro “Nill – Nova vida ao lado
do Salvador” que foi criado para ser o “homem da casa” e não demonstrar
fraqueza. Desde pequeno foi muito cobrado e todos esperavam muito de você. Você
se sentia obrigado a permanecer no Dominó?
Nill: De fato, durante os últimos anos no grupo – quando eu já
manifestava o desejo de abandonar a carreira artística – eu permaneci mais por
pressão externa do que por vontade própria. Foi difícil mudar de profissão, o
que, na época, representou abandonar meu estilo de vida, devido aos contratos
firmados e à questão financeira. Eu era bem remunerado.
iG: Deu para ganhar muito dinheiro com o Dominó?
Nill: Não ganhei tanto dinheiro como as pessoas imaginam, mas,
graças a Deus, pude fazer meu pé-de-meia.
iG: No livro você conta também que queria ser
médico, que não tinha o menor interesse em música, e que foi obrigado a fazer
aulas de violão. Se lembra quando foi a primeira vez que tomou uma atitude por
contra própria?
Nill: Não
me interprete mal, eu não fui um robô. Fiz parte do grupo Dominó e me dediquei
à carreira artística porque achei que seria bom para mim e realmente foi. Mas
essa sensação de liberdade que você menciona, eu realmente só senti depois que
entreguei minha vida a Jesus Cristo. Agora, por exemplo, é muito bom responder
às suas perguntas porque eu quero e não porque algum executivo me obriga a
isso.
iG: Você sente falta da fama? Por quê?
Nill: Não sinto falta da fama, ela trouxe mais aspectos
negativos do que positivos para a minha vida. Na época do estouro do grupo, eu
não tinha liberdade, não conseguia ir a lugares públicos sem ser incomodado.
Além disso, muitas pessoas se aproximaram de mim pelo meu dinheiro e sucesso,
sem se importar com quem eu realmente era. Hoje vivo muito mais feliz do que
antes. Ainda sou reconhecido por causa do sucesso que tive na adolescência, mas
as pessoas são muito mais respeitosas. O que às vezes incomoda é encontrar
pessoas que esquecem que o tempo passou e que já não sou mais aquele
adolescente do grupo Dominó.
iG: Em algum momento vocês se envolveram com drogas
ou bebidas?
Nill: Não,
sempre ficamos longe dessas coisas. Não me lembro de ver alguém do grupo bêbado
ou drogado.
iG: A fama acelerou sua maturidade? Conheceu sua
primeira mulher com quantos anos?
Nill: O trabalho fez com que eu amadurecesse mais rápido, sem
dúvida. Já a precocidade da vida sexual não amadurece ninguém, porque o jovem
acaba fazendo uma coisa para a qual o corpo está preparado, mas a mente não
entende
iG: Como estava sua vida no momento em que você se
converteu?
Nill: Estava perdido, sem rumo na vida. É horrível ter tudo o
que as pessoas desejam e ainda assim não ser feliz e não ter paz. Eu queria
deixar tudo aquilo, mas não tinha forças para agir. Foi então que me lembrei do
que havia apreendido quando eu ainda era criança. Percebi que somente uma
pessoa poderia resolver esse dilema em que eu me encontrava. Foi por isso que
me voltei para Jesus Cristo.
iG: Numa entrevista que você deu no programa do
Gugu, você optou por não cantar e não relembrar coreografias da época de
Dominó. Sua carreira te envergonha? A religião te proíbe ou reprime o
comportamento que você tinha no palco?
Nill: Foi muito bom ter feito parte do grupo Dominó e sinto
orgulho disso. Fiz bons amigos, tive experiências fantásticas e até hoje tenho
o carinho de milhares de pessoas. Porém, isso já passou. Não podemos viver do
passado. O presente é uma bênção que Deus nos concede a cada dia. Sua pergunta
foi oportuna, pois muitas pessoas ainda têm preconceito com respeito ao
cristianismo. Se eu fosse um juiz de Direito ninguém acharia estranho o fato de
eu me recusar a dançar uma música da minha adolescência. Mas, como sou pastor,
imediatamente muitos imaginam que minha fé influencia negativamente a minha
vida. Se soubessem que a verdadeira liberdade está em Cristo, suas vidas seriam
bem mais divertidas.
iG: Ainda fala com algum dos outros integrantes do
grupo?
Nill: Encontrei-me com o Marcelo no programa do Gugu, faz tempo
que não os vejo. Se tem alguma coisa que me arrependo na minha carreira
artística é de não ter feito mais amigos.
iG: Como você vê a fama hoje e as celebridades que
estão surgindo?
Nill: Como lemos em
Eclesiastes capítulo 1, versículo 9: “Nada há de novo debaixo do sol”.
Guardadas as devidas proporções com a década de 80, não vejo novidade alguma.
Desconhecidos continuam buscando seus “15 minutos de fama” e a mídia ainda
promove pessoas sem qualquer relevância. A beleza é muito valorizada em
detrimento do talento. A sociedade se preocupa com a forma e se esquece do
conteúdo. Os grandes nomes do meio artístico têm falecido sem deixar sucessores
à altura.
iG: Qual banda você acha que hoje pode ser a
substituta do Dominó?
Nill: Para
substituir o grupo Dominó, a banda teria que ter uma carreira de pelo menos 4
anos de sucesso; ser um grupo que tivesse recebido ao menos 5 discos de ouro e
4 discos de platina; que tivesse participado de pelo menos 4 filmes de grande
bilheteria; que tivesse participação frequente nos principais programas de
auditório da TV brasileira e fizesse uma média de 200 shows por ano. Desconheço
quem preencha esses requisitos.
iG: Algum cantor que você acha que é o Nill de hoje
em dia?
Nill: Também
desconheço, mas, nesse caso, é muito mais fácil ser parecido comigo: basta
seguir a Jesus Cristo.
Por: Vinícius Ferreira
Para o iG.com.br/