A República Islâmica do Irã abençoa e
incentiva operações de troca de sexo, em nome de uma política que considera
todo cidadão não heterossexual como espírito nascido no corpo errado.
Com no mínimo ao menos 50 cirurgias por ano,
o país é recordista mundial em mudança de sexo, após a Tailândia.
Oficialmente, gays não existem no país. Ficou
famosa a frase do presidente Mahmoud Ahmadinejad dita a uma plateia de
estudantes nos EUA em 2007, de que “não há homossexuais no Irã”. A
homossexualidade nem consta da lei. Porém, sodomia é passível de execução.
Já transexuais, aos olhos dessa mesma lei,
são heterossexuais vítimas de uma doença curável mediante cirurgia.
Essa visão partiu do próprio fundador da
república islâmica, aiatolá Ruhollah Khomeini, que emitiu em 1984 um decreto
tornando o procedimento lícito.
Khomeini comoveu-se com o caso de Feyreddun
Molkara, um devoto xiita que o convencera de que era mulher presa em corpo de
homem.
A bênção aos transexuais continuou após a
morte de Khomeini, em 1989, apesar da objeção de alguns clérigos.
Prevaleceu a corrente que defende a mudança
de sexo como prova de que o islã xiita, dominante no Irã, capta melhor a
mensagem divina. “Sunitas dizem que é mexer com a criação divina. [...] Mas
ninguém está mudando o atributo na natureza criada por Deus. O humano continua
humano”, escreveu o clérigo Mohammad Mehdi Kariminia, simpatizante dos
transexuais. “Trata-se apenas de sintonizar corpo e mente”.
No início dos anos 2000, o Estado passou a
subsidiar um terço do valor total das operações, que variam entre US$ 8 mil e
US$ 10 mil.
O cirurgião Bahram Mir-Jalili, formado na
França, pioneiro no Irã nesse procedimento, afirma que candidatos à operação
passam por reiteradas sessões com médico, psicólogo e psiquiatra antes da
elaboração de um parecer. “O processo leva meses até descartar casos como
esquizofrenia e selecionar apenas pessoas com transtorno profundo de identidade
de gênero”, diz o médico. Ele avalia em 40 mil o número de transexuais
iranianos, diagnosticados ou não.
A comprovação clínica sucede o trâmite
jurídico. Se declarado/a transexual, o/a paciente deverá apresentar-se a um
juiz, que validará ou não o parecer, após nova avaliação por médicos legistas.
Confirmado o laudo, é acionado a Organização
do Bem-Estar Social, que administra os subsídios.
“O regime tem muitos problemas, mas é
inegável que a assistência social funciona bem”, afirma Mir-Jalili, que diz ter
feito 320 mudanças de sexo nos últimos dez anos.
O preconceito é queixa unânime dos
transexuais no Irã. Todos os transexuais iranianos ouvidos pela Folha,
incluindo os que se disseram muçulmanos devotos, relataram problemas com a
família. Há casos, em que essas pessoas vivem juntas, porém, não tem vida
sexual. Segundo eles não reconhecem seus órgãos sexuais e só conseguem ficar a
vontade depois da cirurgia. Pois, desejam ter uma vagina criada a partir de um
pedaço de intestino, conforme a técnica usada pelo doutor Mir-Jalili. Outros
desejam um formato de pênis. Contudo, o desejo de mudar de sexo, ultrapassa
nessas pessoas, o desejo de informações sobre a má qualidade das operações no
Irã. Alguns que se submeteram a cirurgia se queixam do preconceito e afirmam
que jamais teriam mutilado seu corpo se a sociedade os aceitasse do jeito que
nasceram.
Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/
Por: Samy Adghirni
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