13 de janeiro de 2013

CIRURGIA PARA MUDANÇA DE SEXO É INCENTIVADA E SUBSIDIADA PELO GOVERNO NO IRÃ


A República Islâmica do Irã abençoa e incentiva operações de troca de sexo, em nome de uma política que considera todo cidadão não heterossexual como espírito nascido no corpo errado.
Com no mínimo ao menos 50 cirurgias por ano, o país é recordista mundial em mudança de sexo, após a Tailândia.
Oficialmente, gays não existem no país. Ficou famosa a frase do presidente Mahmoud Ahmadinejad dita a uma plateia de estudantes nos EUA em 2007, de que “não há homossexuais no Irã”. A homossexualidade nem consta da lei. Porém, sodomia é passível de execução.
Já transexuais, aos olhos dessa mesma lei, são heterossexuais vítimas de uma doença curável mediante cirurgia.
Essa visão partiu do próprio fundador da república islâmica, aiatolá Ruhollah Khomeini, que emitiu em 1984 um decreto tornando o procedimento lícito.
Khomeini comoveu-se com o caso de Feyreddun Molkara, um devoto xiita que o convencera de que era mulher presa em corpo de homem.
A bênção aos transexuais continuou após a morte de Khomeini, em 1989, apesar da objeção de alguns clérigos.
Prevaleceu a corrente que defende a mudança de sexo como prova de que o islã xiita, dominante no Irã, capta melhor a mensagem divina. “Sunitas dizem que é mexer com a criação divina. [...] Mas ninguém está mudando o atributo na natureza criada por Deus. O humano continua humano”, escreveu o clérigo Mohammad Mehdi Kariminia, simpatizante dos transexuais. “Trata-se apenas de sintonizar corpo e mente”.
No início dos anos 2000, o Estado passou a subsidiar um terço do valor total das operações, que variam entre US$ 8 mil e US$ 10 mil.
O cirurgião Bahram Mir-Jalili, formado na França, pioneiro no Irã nesse procedimento, afirma que candidatos à operação passam por reiteradas sessões com médico, psicólogo e psiquiatra antes da elaboração de um parecer. “O processo leva meses até descartar casos como esquizofrenia e selecionar apenas pessoas com transtorno profundo de identidade de gênero”, diz o médico. Ele avalia em 40 mil o número de transexuais iranianos, diagnosticados ou não.
A comprovação clínica sucede o trâmite jurídico. Se declarado/a transexual, o/a paciente deverá apresentar-se a um juiz, que validará ou não o parecer, após nova avaliação por médicos legistas.
Confirmado o laudo, é acionado a Organização do Bem-Estar Social, que administra os subsídios.
“O regime tem muitos problemas, mas é inegável que a assistência social funciona bem”, afirma Mir-Jalili, que diz ter feito 320 mudanças de sexo nos últimos dez anos.
O preconceito é queixa unânime dos transexuais no Irã. Todos os transexuais iranianos ouvidos pela Folha, incluindo os que se disseram muçulmanos devotos, relataram problemas com a família. Há casos, em que essas pessoas vivem juntas, porém, não tem vida sexual. Segundo eles não reconhecem seus órgãos sexuais e só conseguem ficar a vontade depois da cirurgia. Pois, desejam ter uma vagina criada a partir de um pedaço de intestino, conforme a técnica usada pelo doutor Mir-Jalili. Outros desejam um formato de pênis. Contudo, o desejo de mudar de sexo, ultrapassa nessas pessoas, o desejo de informações sobre a má qualidade das operações no Irã. Alguns que se submeteram a cirurgia se queixam do preconceito e afirmam que jamais teriam mutilado seu corpo se a sociedade os aceitasse do jeito que nasceram.



Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/
Por: Samy Adghirni

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