Milhões nas ruas
protestando; sete em cada dez eleitores declarando desejo de mudança no
governo. O cenário no qual transcorreram as eleições de 2014 prenunciava uma
transformação profunda da política brasileira. O resultado não poderia ser mais
contrastante. O Congresso Nacional terá poucas caras novas e com sobrenomes
velhos. Os Estados continuam sendo governados, na imensa maioria, pelos mesmos
caciques de sempre. E Dilma Rousseff (PT) segue sendo presidente do Brasil,
após derrotar o PSDB no segundo turno: 2002, 2006 e 2010 “reloaded”.
Das 27 eleições
para governador, só dá para dizer que houve algum tipo de renovação em quatro.
Nas outras 23, o atual governador se reelegeu, como em São Paulo, Rio de
Janeiro e Paraná, ou fez o sucessor, como em Pernambuco e na Bahia, ou o eleito
é um ex-governador, como no Espírito Santo, Tocantins e Piauí. Na melhor das
hipóteses, o novo governador pertence a um grupo político que, não faz muito
tempo, mandava no Estado.
A maior renovação
aconteceu no Maranhão, com Flávio Dino (PC do B), que desalojou o clã dos
Sarney. No Mato Grosso, Pedro Taques (PDT) é um procurador tornado senador que
se elegeu governador. Não foi eleito por ter parentes políticos. No Distrito
Federal, a eleição de Rodrigo Rollemberg (PSB) acabou com a polarização entre o
PT e o grupo de Joaquim Roriz. No Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB)
põe fim a uma era do PMDB no poder. Só.
Em todo o resto, a
troca de comando, quando houve, foi de seis por meia dúzia. Ou, no máximo, por
um terço de 18.
Dos 513 deputados
federais, 401 tentaram se reeleger e 290 conseguiram. Sua taxa de sucesso foi
de 72%. Nada se correlaciona mais com a vitória na eleição parlamentar do que
já ser um parlamentar. Por outro lado, se “apenas” 290 estarão de volta a
Brasília no próximo ano, quer dizer que 223 são novos, certo? Não exatamente.
Pelo menos 25 não são novatos, mas redivivos. Já foram deputado antes, só
tinham dado um tempo.
A Câmara terá 198
neófitos que terão seu primeiro gabinete brasiliense. Formalmente, é a maior
taxa de renovação desde 1998: 39%. Mas o exame da lista de eleitos revela que
grande parte das caras novas têm sobrenomes ou nomes de guerra velhos
conhecidos do Congresso, como Covas, Cardoso e Garotinho.
Mudam só os
prenomes: Bruno em lugar de Mario, Clarissa em vez de Anthony. Às vezes nem
isso, basta acrescentar um “júnior”, um “neto” ou até um um “bisneto” no final.
São todos herdeiros do poder, como Newton Cardoso Jr., Expedito Netto e Arthur
Bisneto. A hereditariedade do poder é um dos legados da monarquia que a
república brasileira conserva com mais afeto e zelo.
Entre os neófitos,
quem não chegou lá por ser parente se encaixa em pelo uma dessas categorias: já
passou por outro cargo eletivo (prefeito, deputado estadual etc), exerceu
alguma função pública (policial, promotor etc), é celebridade – com as exceções
que confirmam a regra. Na Câmara, a eleição foi seis por meia dúzia.
Por que os gritos
e cartazes não se converteram em votos de protesto? Não em quantidade
suficiente para mudar os donos do poder. Por que? Há várias respostas, esta é
apenas uma.
Porque quem foi às
ruas protestar foi um segmento expressivo, mas um segmento, não toda a
população. Eram majoritariamente jovens que tiveram mais oportunidades de
estudo do que qualquer outra geração anterior à deles na história do Brasil.
Mas que não conseguem equiparar esses anos de estudo a cifrões nos seus
salários. Estão mais frustrados do que as gerações anteriores. Foram essas
gerações mais velhas que decidiram a eleição.
Os mais velhos
votaram na continuidade. Não arriscaram porque, mesmo sem tanto estudo quanto
os filhos, experimentaram um incremento de renda que nem seus pais nem avós
experimentaram. Para eles não era seis por meia dúzia.
Fonte: estadão
Por: Jose Roberto de Toledo
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