30 de agosto de 2010

NOSTALGIA

Neste ESPAÇO, você encontrará vários artigos deste grande escritor norteriograndense

Dr. Valério Alfredo Mesquita
Nascido em Macaíba-RN, Valério Alfredo Mesquita diplomou-se em Direito pela UFRN. Ainda muito jovem, ingressou na política, elegendo-se prefeito de sua cidade natal (1973-1975) e posteriormente deputado estadual por várias legislaturas. Considerado uma das maiores expressões da cultura potiguar na atualidade, presidiu a Fundação José Augusto, onde desenvolveu um trabalho digno de registro. Ex-membro honorário do Conselho Estadual de Cultura, sócio efetivo da União Brasileira de Escritores (secção RN), do Instituto Histórico e Geográfico do RN e da Academia Norte Rio-grandense de Letras, onde ocupa a cadeira 21, que tem por patrono o poeta Antônio Marinho, atualmente é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte. Em sua extensa e valiosa bibliografia, destacam os seguintes livros: ‘O Tempo e sua Dimensão’, ‘Macaíba de seu Mesquita’, ‘A Política e suas Circunstâncias’, ‘Perfis e Outros Temas’, ‘Poucas e Boas’, ‘Frutos do Tempo’, ‘Trilogia do Cotidiano’, ‘Inquietudes’, ‘Memórias Provincianas’ e ‘Em Defesa da Fé Cristã’.



NOSTALGIA

           Vivo o desconforto e a nostalgia de mim mesmo ao me deparar com o sonho dos meus 20 anos que a idade madura não confirmou. Sinto-me disperso, irrealizado, quando retorno às minha origens telúricas. A meta de trazer o passado ao presente, reconstruí-lo pela palavra e pensamento a fim de reconsquistar a minha au-estima, parece-me uma tarefa hercúlea porque constato que o personagem não sou eu mas, sobretudo, o tempo. Deduzo que, precisaria recriar os fatos e renascer as pessoas. Verifico que sou o resultado de todas as convivências e acontecimentos afins do passado. Por isso o vácuo e a irritação me arrastam ao entendimento incluso de que tudo foi ilusão e e fantasia, ou infecção sentimental.
           Mas, o patrimônio existencial da terceira idade, onde a memoria olfativa, a auditiva e, principalmente, a visual procuram restituir-me o universo perdido das fases inaugurais da vida. Aquela lua cheia, por exemplo, vista do cais de Jundiaí em Macaíba - RN, como se estivesse pendurada por fios invisisíves, atras doa coqueiros e eucaliptos, infundia-me na adolescencia negro mistério do tempo da colonização dos escravos, indios e colonos, de escuridão e medo, como se as fases da lua chegassem naquele tempo por édito imperial. Como me perco na contemplação do Solar do Ferreiro Torto e os seus sortilégios de poder, carne, cobiça e paixão. E a descortinação surpreendente do Solar dos guararapes. Quantas perguntas insaciadas não existem sobre o que ocorreu ali? Os seus fantasmas que subiam e desciam a colina sob a batuta do senhor de engenho numa cosmovisão ora polêmica, ora lírica, dentro do abismo da memória?
         “Tú não mudas o mundo. Mas o mundo te muda”. Talvez essa frase de Otto Lara Rezende explique e me convença que o futuro nada tenha a ver comigo, porque o passado está mais presente em mim do que o próprio presente. Em cada passo em minha terra revisito os mortos na lembrança tentando reconstituir os fatos com os quais dividi o tempo. Adquiri o hábito de rezar por quase todos eles, todas as noites. Faço-os prolongar no meu convívio pela relembrança. Para mim o chão dos antepassados é sagrado, mesmo que estejam sepultados nele resquícios enferrujados e rangentes de um antigo fausto. Mesmo debilitada pela decadência física, da feição das caras e das coisas, o que mais me doi é a decadência das mentalidades e dos antigos costumes, como se fosse hoje um porão cheio de escuro, melancolia e solidão. Nostalgias, nada mais.


Meus agradecimentos ao Dr. Valério, que me enviou por email este brilhante artigo, para postar neste Espaço. Dedico a todos aqueles que não vivem sem uma boa leitura. Espero que gostem. Deixem um comentário. bjuss

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