Uma lei sancionada
pela presidenta Dilma Rousseff em agosto dá à Força prazo de até cinco anos
para se preparar para integrar alunas à EsPCEx (Escola Preparatória de Cadetes
do Exército), à Aman (Academia Militar das Agulhas Negras, escola de oficiais),
em Resende (RJ), e praças profissionais à Escola de Sargentos das Armas (ESA),
em Três Corações (MG).
Grupos de trabalho no
Exército estão sendo formados para estudar como se dará a entrada das mulheres
combatentes na tropa.
Com a mudança, as mulheres
poderão passar a entrar efetivamente em combate, portando fuzis, integrando
patrulhas e missões reais de confronto
e de Paz, como parte das sete Armas do Exército.
Poderão rastejar e combater a pé
em qualquer terreno pela Infantaria, embarcar em um carro de combate da
Cavalaria no front, disparar um obus da retaguarda na Artilharia, fazer contato
ou guerra eletrônica com o equipamento das Comunicações, reparar ou destruir
pontes na Engenharia, dar o apoio logístico do Material Bélico ou fazer o
planejamento dos suprimentos, na Intendência.
O Exército já tem mulheres, mas
apenas no quadro complementar, em áreas como Saúde (médicas, dentistas,
enfermeiras, técnicas de enfermagem e psicólogas, por exemplo) e em carreiras
técnicas do IME (Instituto Militar de Engenharia).
Embora haja mulheres combatentes em polícias militares
pelo País, no Exército o segmento feminino se restringe a 6.700 de seus
200 mil integrantes, representando apenas 3,35% do total. Trata-se de uma
carreira, portanto, esmagadoramente masculina. Como comparação, o Exército dos
Estados Unidos, por exemplo, tem 14% de mulheres, o quádruplo,
proporcionalmente.
Apesar de não declarado
oficialmente, ainda persistem resistências internas e muitas incertezas na
Força em relação à mudança – determinada por lei.
A intenção inicial da presidenta Dilma era implantar o plano
imediatamente, mas a ideia deixou o oficialato em polvorosa. O Comando
argumentou que seria necessário algum tempo para adaptação, e conseguiu o prazo
de até cinco anos – os militares argumentam que pode acontecer antes.
O Exército alega que precisa de
tempo para estudar as adaptações necessárias, tanto no aspecto curricular
quanto estrutural, de instalações (alojamentos, banheiros, etc.). “Os desafios
são mais culturais. Na Aeronáutica já há mulheres, mas também é recente, a
exemplo de outros exércitos”, diz o Chefe da Seção de Informações Públicas do
Exército, coronel Campos. Ele, entretanto, acredita que a adaptação não será
tão “traumática”, porque já há mulheres na Força. Segundo ele, grupos de
trabalho estão sendo formados para estudar o plano de disciplinas.
O Exército também ainda não sabe
quantas vagas nem quando serão criadas para as mulheres nem quando. Tampouco se
decidiu ainda se elas vão entrar em todas as sete Armas do Exército ou se
haverá período de transição.
“Não tem trauma, o Exército já
aceitou. Precisa se adequar e cumprir o prazo”, afirmou o coronel Campo, que
admite ainda haver muitas questões indefinidas.
Dois artigos incluídos pelos
militares na lei foram vetados pela presidenta Dilma. Um que impedia a entrada
de mulheres casadas, com união estável ou dependentes, e outro que impedia
candidatas com tatuagens que, por “suas dimensões ou natureza, prejudiquem a
camuflagem e comprometam as operações militares”.
Em outras Forças Armadas, as
mulheres participam ativamente há mais tempo, como nos Estados Unidos, onde
estão cada vez mais em operações desde as guerras do Afeganistão e do Iraque.
O país já desenvolveu até coletes
balísticos especiais para mulheres (mais curtos e desenhados para o corpo
feminino).
No Brasil, a primeira
participação de uma mulher em combate ocorreu em 1823, quando Maria Quitéria de
Jesus – considerada a primeira mulher a assentar praça em unidade militar –
lutou pela manutenção da independência. Só em 1943, as mulheres entraram
oficialmente no Exército, na 2ª Guerra Mundial, quando a Força enviou 73
enfermeiras voluntárias para servir em quatro diferentes hospitais do exército
dos EUA. Ao voltar da guerra, a maioria ganhou a patente de oficial foi
condecorada e licenciada do serviço ativo militar.
Em 1992, 49 mulheres integraram a
primeira turma da Escola de Administração do Exército. Quatro anos depois, foi
criado o Serviço Militar Feminino Voluntário para médicas, dentistas,
farmacêuticas, veterinárias e enfermeiras de nível superior – e 290 voluntárias
entraram. No ano seguinte, o IME matriculou a primeira turma de dez alunas, no
Quadro de Engenheiros Militar e a Escola de Saúde do Exército formou a primeira
turma de oficiais de seu quadro.
Em 98, 519 mulheres de áreas que
variam de jornalismo a advocacia e administração de empresas entraram no
Estágio de Serviço Técnico para profissionais, no Quadro de Oficial Técnico
Temporário.
Na Aeronáutica, as mulheres
passaram a ser admitidas no quadro de oficiais intendentes da AFA (Academia da
Força Aérea) em 1995. Em 2003, a AFA recebeu as primeiras alunas do Curso de
Formação de Aviadores; em 2002, a Escola de Especialistas da Aeronáutica teve
56 alunas, do total de 287.
Entre 2002 e 2012, a presença
feminina na Aeronautica cresceu 154%, de 3.249 para 8.284 militares. “Com
passar dos anos, elas têm destacado, inclusive ocupando cargos de liderança e
chefia, em áreas antes tipicamente masculinas”, afirma o site da corporação.
O ingresso da mulher na Marinha
começou em julho de 1980, mas, como no Exército, sempre nas áreas do Quadro
Complementar de Oficiais ou Corpo Auxiliar de Praças, não como combatentes.
Elas atuam em áreas como Medicina, apoio à saúde, Engenharia, Arquitetura,
Pedagogia, Direito, História, Comunicação Social, Serviço Social, Psicologia,
entre outras.
Fonte:http://ultimosegundo.ig.com.br/