13 de setembro de 2010

HEPATITE C: UM PROBLEMA MUNDIAL DE SAÚDE PÚBLICA

Rosélia Santos

INTRODUÇÃO

              O vírus que causa a Hepatite C pertence ao gênero Hepacivirus e à família Flaviridae. Segundo Ferreira e Silveira (2004, p. 482), seu genoma é constituído por uma fita simples de RNA e nele “há uma grande variedade na seqüência genômica do VHC”.
              A Hepatite C é de alta incidência entre usuários de drogas intravenosas. São desse tipo 80% dos casos de Hepatite contraída por transfusão de sangue. É importante destacar que a transmissão do vírus HCV ocorre principalmente por via parenteral e que o HCV já é o maior responsável por cirrose e transplante hepático no Mundo Ocidental (BRASIL, 2008).
               Sousa e Cruvinel (2008, p. 690), destacam que “a Hepatite C é uma doença infecciosa que traz grandes desafios à ciência. Os conhecimentos acerca dessa infecção vêem se desenvolvendo constantemente desde a identificação de seu agente etiológico em 1989”.
              Antes dessa descoberta, a Hepatite C era denominada de ‘Hepatite não-A não-B’ (BRASIL, 2008). Sabe-se hoje que a maior parte dos casos da chamada hepatite não A-não B são de hepatite C, que evolui, na maior parte dos casos, para a hepatite crônica.

REVISÃO DE LITERATURA

              Considerada como a sétima causa de anos de vida perdidos entre os homens e a décima segunda entre as mulheres, a Hepatite C é uma patologia que apresenta distribuição universal, acometendo, segundo Sousa e Cruvinel (2008), 3% da população mundial, o que faz com que estime-se que aproximadamente 170 milhões de pessoas sejam portadores dessa doença. Quando ao Brasil, a prevalência oscila entre 2,5 a 10%.
              O vírus VHC é transmitido por contato direto, percutâneo ou através de sangue contaminado. E, embora em cerca de 30% dos casos dessa infecção, não seja possível definir qual o mecanismo de transmissão envolvido, esclarece o Ministério da Saúde (BRASIL, 2005), que os mecanismos conhecidos para a transmissão dessa infecção são os seguintes:
              a) Transfusão de sangue e uso de drogas injetáveis;
              b) Hemodiálise;
              c) Acupuntura, piercings, tatuagem, droga inalada, manicures, barbearia, instrumentos cirúrgicos;
              d) Relacionamento sexual;
              e) Transmissão vertical e aleitamento materno;
              f) Acidente ocupacional;
              g) Transplante de órgãos e tecidos.
             Assim, com base na informação pode-se concluir que as populações de risco acrescido para a infecção pelo HCV por via parenteral são formadas, principalmente, por indivíduos que recebem transfusão de sangue e/ou hemoderivados e por usuários de drogas intravenosas ou usuários de cocaína inalada que compartilham os equipamentos de uso.
              Deve-se destacar que após tornarem-se obrigatórias a inclusão de testes para anticorpos contra o HCV nos exames de triagem no Brasil (1993), houve uma redução da transmissão dessa forma de hepatite por transfusão de sangue e hemoderivados (COVAS et al. 2005).
             No caso da Hepatite C, a transmissão sexual é pouco freqüente, ocorrendo, principalmente em pessoas com múltiplos parceiros e com prática sexual de risco, “sendo que a coexistência de alguma DST - inclusive o HIV - constitui-se em um importante facilitador dessa transmissão” (BRASIL, 2008, p. 9).
              A Hepatite pode se manifestar sob a forma aguda ou crônica. Nesse sentido, informa Brasil (2005, p. 14), que “a manifestação de sintomas da hepatite C em sua fase aguda é extremamente rara. Entretanto, quando presente, ela segue um quadro semelhante ao das outras hepatites”.
              Por sua vez, a Hepatite C crônica se configura “quando a reação inflamatória nos casos agudos persiste sem melhoras por mais de seis meses” e “os sintomas, quando presentes, são inespecíficos, predominando fadiga, mal-estar geral e sintomas digestivos” (BRASIL, 2005, p. 14).
              Deve-se ainda ressaltar que uma parcela das formas crônicas pode evoluir para cirrose, com aparecimento de icterícia, edema, ascite, varizes de esôfago e alterações hematológicas (BRASIL, 2005). Com o tempo, doença pode evoluir ainda mais, fazendo surgir o hepatocarcinoma (câncer no fígado).
              Corrêa e Borges (2009), registram que a Hepatite C aguda apresenta uma resolução da infecção e recuperação em 15% dos casos, enquanto que a infecção crônica persistente, com 70% de possibilidade de progressão para doença numa fase posterior da vida e progressão rápida para cirrose em 15% dos pacientes. Acrescentam ainda que o álcool é um co-fator para a cirrose induzida por HCV, e que esse vírus promove desenvolvimento de carcinoma hepatocelular, após 30 anos em até 5% dos pacientes cronicamente infectados.
              Esclarecem Ferreira e Silveira (2004), que os portadores do VHC também apresentam riscos adicionais quando contraem o vírus da hepatite B. E, para evitar isto, recomenda-se a vacina da hepatite B.
Por outro lado, Sousa e Cruvinel (2008) informam que a hepatite C também está associada a alterações psiquiátricas como os quadros depressivos, sendo essa situação resultante dos efeitos colaterais desencadeados pelo tratamento com inferferon.
               Deve-se também ressaltar, que os portadores da Hepatite C também podem ser vítimas da Hepatite fulminante, causada pelo vírus da hepatite A, pode ser evitada nesses pacientes, através da vacina contra VHA.
               Por sua natureza clínica, o diagnóstico da Hepatite C é feito, segundo Brasil (2005), através da realização dos seguintes exames de sangue:
              a) exames sorológicos: podem identificar anticorpos contra esse vírus e normalmente seus resultados apresentam alta sensibilidade e especificidade. Utiliza-se o teste ELISA (anti-HCV) para essa pesquisa de anticorpos;
               b) exames que envolvem técnicas de biologia molecular: são utilizados para detectar a presença do ácido nucléico do vírus e podem ser qualitativos em quantitativos (indicam a carga viral presente na amostra) ou de genotipagem (indicam o genótipo do vírus).
               O tratamento da Hepatite C tem por objetivo deter a progressão da doença, inibindo a replicação viral. Assim, com a redução da atividade inflamatória consegue-se impedir a evolução do quadro para cirrose e/ou carcinoma hepatocelular, possibilitando ao paciente, uma melhoria da qualidade de vida.
               Esclarecem Sousa e Cruvinel (2008, p. 690), que: "O tratamento requer período de tempo prolongado tendo como características a baixa erradicação viral associada a pouca segurança terapêutica o que o inviabiliza para um grande número de portadores, sendo esses acompanhados de forma expectante. Alguns indivíduos não respondem satisfatoriamente ao tratamento, ou ainda podem não manter resposta sustentada, tornando-se recidivantes. Esses óbices estão na dependência do genótipo, bem como podem estar relacionados à especificidade e sensibilidade dos métodos diagnósticos empregados".
              Os pacientes já infectados pelo HCV, o tratamento atual é realizado com o interferon (INF), que é uma citocina imunomoduladora, produzida naturalmente por linfócitos em resposta às infecções virais. E, que possui atividade antiviral direta em culturas celulares, propriedades antiangiogênicas e antiproliferativas, sendo também utilizado no tratamento de outras doenças, objetivando modular a capacidade do sistema imunológico (CORRÊA, BORGES (2008).
              No tratamento do portador da Hepatite C, é também importante que se controle o peso, o colesterol e a glicemia do paciente. Estas medidas reduzem a probabilidade de progressão da doença, pois estes fatores, “quando presentes, podem ajudar a acelerar o desenvolvimento de formas graves de doença hepática” (BRASIL, 2005, p. 14).
               Ao contrário das Hepatites A e B, não existe vacina para a prevenção da hepatite C. No entanto, sobressaem algumas medidas de prevenção que são agrupadas e primárias e secundárias.
              De acordo com Brasil (2005), dentre as medidas primárias visam à redução do risco para disseminação da Hepatite C, destacam-se:
               a) triagem em bancos de sangue e centrais de doação de sêmen para garantir a distribuição de material biológico não infectado;
               b) triagem de doadores de órgãos sólidos como coração, fígado, rim e pulmão;
               c) triagem de doadores de córnea ou pele;
              d) cumprimento das práticas de controle de infecção em hospitais, laboratórios, consultórios dentários, serviços de hemodiálise.
              Ainda com base em Brasil (2005), dente as medidas secundárias que visam à interrupção da progressão da doença em uma pessoa já infectada, destacam-se as seguintes:
               a) tratamento dos indivíduos infectados, quando indicado;
               b) abstinência ou diminuição do uso de álcool, não exposição a outras substâncias hepatotóxicas.
              A Hepatite C é uma doença crônica que evolui de forma silenciosa e que, na maioria dos casos, só é diagnosticada em estágio avançado, com indícios de fibrose e insuficiência hepática. E, a sua prevenção, deve focalizar o aconselhamento de pessoas que usam drogas ou que estão em risco de uso, e aquelas com práticas sexuais também consideradas de risco (FERREIRA; SILVEIRA, 2004).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

              A Hepatite C é um dos tipos das hepatites virais as mais freqüentes no Brasil, constituindo-se num grande problema de saúde pública, situação também registrada em vários outros países do mundo.
Tal patologia possui distribuição universal, sendo o Brasil considerado uma área de risco para essa doença.
              A Hepatite C é a sétima causa de anos de vida perdidos entre os homens e a décima segunda entre as mulheres. E, que para esse tipo não existe vacina.
Apesar do governo federal ter instituído em fevereiro de 2002 o Programa Nacional de Hepatites Virais, visando diminuir a incidência desse grupo de doenças no Brasil, muito pouco até agora se tem conseguido.

Rosélia Maria de Sousa Santos
REFERÊNCIAS

1. BRASIL. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. A, B, C, D, E de hepatites para comunicadores. Brasília: Ministério da Saúde, 2005.
2. ______. Hepatites virais: o Brasil está atento. 3 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2008.
3. CORRÊA, S.; BORGES, P. K. O. Hepatite C: Aspectos epidemiológicos e clínicos de uma doença silenciosa. Interbio, Dourados, v.2 n.1, p. 29-34, 2008.
4. COVAS, D. T.; PASSOS, A. D. C.; VALENTE, V. B.; Marcadores sorológicos das hepatites B e C em doadores de sangue do Hemocentro de Ribeirão Preto, SP. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 36, n. 6. P. 15-23, nov./dez. 2005.
5. FERREIRA, C. T.; SILEIRA, T. R. Hepatites virais: aspectos da epidemiologia e da prevenção. Rev. Bras. Epidemiol. V. 7, n. 4, p, 473-487, 2004.
6. SOUSA, V. V.; CRUVINEL, K. P. S. Ser portador de hepatite c: sentimentos e expectativas. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, v. 17, n. 4, p. 689-695, out-dez, 2008.

3 comentários:

Ministério disse...

Olá blogueiro,
É muito importante também incentivar a doação de órgãos e conscientizar as pessoas sobre a importância deste gesto de solidariedade.
Para ser doador de órgãos não é preciso deixar nada por escrito. O passo principal é avisar a família sobre a vontade de doar. Os familiares devem se comprometer a autorizar a doação por escrito após a morte. Divulgue a ideia e salve vidas!
Para mais informações: comunicacao@saude.gov.br
Ministério da Saúde

Ana Flor disse...

Rosélia,
Obrigada por juntar-se ao nosso alerta!

Um abraço!

desterro disse...

bastante interessante essa matéria sobre hepatite bem elaborada e detalhada que sirva de alerta às pessoas sAO informações precisas QUE todos deveríamos saber. Parabéns

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