1 de novembro de 2010

ALGUNS DIREITOS/MUITAS INGENUIDADES

Rosélia Santos
- Todas as crianças com mais de cinco anos têm direito a desabafar.
- Todas as crianças até aos onze ou doze anos têm direito a andar grátis no carrocel quando estão de férias.
- Todas as crianças que andam na Escola têm direito a serem alegres, terem amigos e a brincarem com os outros.
  Têm direito a ter uma Professora que não grite com elas.
- Todas as crianças têm direito a ver o mar verdadeiro, especialmente em dia de maré vazia.
- Todas as crianças têm direito a, pelo menos uma vez na vida, escolher um chocolate que lhes apeteça.
- Todas as crianças têm direito a terem orgulho na sua existência.
- Todas as crianças têm direito a pensar e a sentir como lhes manda o coração, até serem velhas, aí com uns vinte anos.
- Todas as crianças têm direito a terem em casa o Pai e a Mãe, os irmãos, se houver, e comida.
Se o Pai e Mãe não conseguirem viver juntos têm direito a que cada um deles respeite o outro.
- Todas as crianças têm direito a deitarem-se no chão para ver as nuvens passar, imaginando formas de todos os bichos do Mundo combinadas com as coisas que quiserem (por exemplo, um cão a andar de patins ou uma girafa de orelhas compridas).
- Todas as crianças têm direito a começarem uma coleção não interessa de quê.
- Todas as crianças têm direito a chupar o dedo indicador que espetaram num bolo acabado de fazer ou então lamber a colher com que raparam a taça em que ele foi feito.
 –Todas as crianças têm direito a tentarem manter-se acordadas até tarde numa noite de Verão, na esperança de verem uma estrela cadente e pedirem três desejos (a justiça devia fazer acontecer sempre pelo menos um).
- Todas as crianças têm direito a escrever ou a falar uma linguagem inventada por elas (ou que julgam inventada por elas), como por exemplo a “linguagem dos pés”: “apa linpingupuapagempem dospos pêspês”.
- Todas as crianças têm direito a imaginar o que vão querer fazer quando forem grandes (habitualmente coisas extravagantes) e a perguntar aos adultos “o que queres ser quando fores pequenino?”.
- Todas as crianças têm direito a dormir numa cama sua, sentindo o cheiro da roupa lavada, e a terem um espaço próprio na casa, pelo menos a partir do ano de idade.
- Todas as crianças têm direito a passear na rua tentando pisar apenas o empedrado branco (ou só o preto); em opção, têm direito a fazer uma viagem contando quantos carros vermelhos passam na faixa contrária.
- Todas as crianças meninos têm direito a, pelo menos uma vez na vida, perguntar a uma menina “queres ser a minha namorada”?
e todas as meninas têm direito a, pelo menos uma vez na vida, responder, “sim, quero”.
- Todas as crianças têm direito a ouvir um adulto contar pelo menos uma destas histórias: Peter Pan, o Principezinho ou o Príncipe Feliz.
- Todas as crianças têm direito a ter alegria suficiente para imaginar coisas boas antes de dormirem e depois, a sonhar com elas.
- Todas as crianças têm direito a ter um boneco de peluche preferido, especialmente quando velho, já lavado e mesmo com um olho a menos.
- Todas as crianças (especialmente se já adolescentes) têm direito a usar os ténis preferidos, mesmo que rotos e com cheiro tóxico.
- Todas as crianças têm direito a poder tomar banho sozinhas e a experimentar mergulhar na banheira contando o tempo que agüentam sem respirar.
- Todas as crianças têm direito a jogar aos 405 polícias e ladrões, preferindo inevitavelmente serem ladrões.
- Todas as crianças têm direito a ter um colo onde se possam sentar, enroscar como numa concha e receber mimos.
- Todas as crianças têm direito a nascer iguais em direitos.
- Todas as crianças têm direito a conhecer o sítio onde nasceram e a visitá-lo livremente.
- Todas as crianças têm direito a não ficarem sozinhas a chorar.
- Todas as crianças têm direito a viver num País que tenha um Ministério da Infância e Juventude, que olhe verdadeiramente pelo crescimento afectivo e bem-estar interior (sem preconceitos adultocênticos ou hipocrisias com ares de cromo abrilhantado).
- Todas as crianças têm direito a acreditar que têm um adulto que olha por elas e as ama sem condição prévia (nem que seja Nosso Senhor).
- Todas as crianças têm direito a viver felizes e a ter paz nos seus pensamentos e sentimentos.

FONTE, TEXTO 
ZÊZERE, Paula. A escola inclusiva e a igualdade de oportunidades. Análise Psicológica (2002), 3 (XX): 401-406

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