Feijão-de-corda pode ser alternativa para tratamento do câncer de mama |
Molécula encontrada no grão mata células cancerígenas sem agredir células sadias.
Pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília descobriram no popular feijão-de-corda uma nova alternativa para o tratamento do câncer de mama. Estudo conduzido pela pesquisadora Sônia de Freitas em parceria com o professor Ricardo de Azevedo, do Departamento de Morfologia, mostra que uma molécula encontrada naquele grão, chamada BTCI, mata células cancerígenas sem agredir células sadias. A observação foi feita na dissertação da aluna Graziella Joanitti que realizou testes in vitro, com a presença de BTCI em uma baixa concentração (400 micromolar).
Resultado de oito anos de estudos com a BTCI (black eyed-pea Trypsin Chymotripsin inhibitor), no futuro, a descoberta pode garantir um tratamento com menos efeitos colaterais que os adotados atualmente, como a radioterapia e a quimioterapia, tratamentos que não são tão seletivos e podem causar a morte de células sadias.
Por ser um produto natural ele pode ser uma alternativa com menos efeitos colaterais – afirma Sônia.
A doença acomete 49 mulheres em cada 100 mil no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer.
A BTCI é de uma classe de substâncias importantes em diversos eventos celulares, como resposta na infecção por bactérias e fungos e na coagulação. Sônia explica que o câncer regride porque a BTCI causa a fragmentação do DNA das células doentes, altera a integridade da membrana e do núcleo e cria estruturas que digerem o conteúdo das células, como os lissosomos e os autofagosomos.
Os estudos mostram ainda outras propriedades importantes da molécula. Ela inibe a atividade de três enzimas, tripsina, caspase e a quimotripsina-like do proteassoma, um complexo de proteína que está relacionado à regulação do ciclo celular, tema de dissertação da aluna Larissa Souza.
O proteassoma é peça fundamental na divisão de células cancerígenas – esclarece Sônia.
A pesquisadora estima que serão necessários pelo menos quatro anos para realizar estudos clínicos. Como se trata de uma molécula de alta estabilidade, a BTCI pode ser facilmente administrada, inclusive por via oral.
Uma coletânea dos estudos sobre a BTCI, que contou com apoio de diversos pesquisadores, foi apresentada no 1º seminário de medicina translacional, realizado na UnB no começo deste mês.
História
Um dos principais pontos para o sucesso da pesquisa foi o profundo conhecimento adquirido em 40 anos de pesquisa do professor emérito da UnB, Manuel Mateus Ventura. Vindo de Fortaleza, capital do Ceará, ele trouxe o conhecimento sobre o feijão-de-corda e criou a pós-graduação de Biologia Celular da UnB, onde estudou a BTCI junto com Sônia, que hoje coordena o laboratório.
De acordo com a pesquisadora, este conhecimento proporcionou um estudo aprofundado.
É uma pesquisa vertical. Iniciou-se com a purificação e a caracterização da molécula e hoje já estamos com a estrutura atômica, obtida a partir de dados do cristal da proteína coletados no Laboratório Nacional de Luz Sincroton, em Campinas – diz Sônia.
Ela explica que, ao conhecer a estrutura da molécula, pode-se predizer mecanismos celulares e consequentemente a função biológica destes.
Alunos de doutorado e mestrado continuarão o estudo. Um deles, em colaboração com Ricardo Bentes e a aluna Graziella Joanitti, investiga a ação da molécula encapsulada em camundongos com câncer. Outro, em colaboração com Luciano Paulino, Marcelo Bemquerer e Manasses Fonteles, estuda a ação do BTCI em relação à hipertensão.
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Bjussss Rosélia Santos.