1 de maio de 2011

CÂNCER DE MAMA X FEIJÃO-DE-CORDA

Feijão-de-corda pode ser alternativa para tratamento do câncer de mama

Molécula encontrada no grão mata células cancerígenas sem agredir células sadias.
Pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília descobriram no popular feijão-de-corda uma nova alternativa para o tratamento do câncer de mama. Estudo conduzido pela pesquisadora Sônia de Freitas em parceria com o professor Ricardo de Azevedo, do Departamento de Morfologia, mostra que uma molécula encontrada naquele grão, chamada BTCI, mata células cancerígenas sem agredir células sadias. A observação foi feita na dissertação da aluna Graziella Joanitti que realizou testes in vitro, com a presença de BTCI em uma baixa concentração (400 micromolar).
Resultado de oito anos de estudos com a BTCI (black eyed-pea Trypsin Chymotripsin inhibitor), no futuro, a descoberta pode garantir um tratamento com menos efeitos colaterais que os adotados atualmente, como a radioterapia e a quimioterapia, tratamentos que não são tão seletivos e podem causar a morte de células sadias.
Por ser um produto natural ele pode ser uma alternativa com menos efeitos colaterais – afirma Sônia.
A doença acomete 49 mulheres em cada 100 mil no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer.
A BTCI é de uma classe de substâncias importantes em diversos eventos celulares, como resposta na infecção por bactérias e fungos e na coagulação. Sônia explica que o câncer regride porque a BTCI causa a fragmentação do DNA das células doentes, altera a integridade da membrana e do núcleo e cria estruturas que digerem o conteúdo das células, como os lissosomos e os autofagosomos.
Os estudos mostram ainda outras propriedades importantes da molécula. Ela inibe a atividade de três enzimas, tripsina, caspase e a quimotripsina-like do proteassoma, um complexo de proteína que está relacionado à regulação do ciclo celular, tema de dissertação da aluna Larissa Souza.
O proteassoma é peça fundamental na divisão de células cancerígenas – esclarece Sônia.
A pesquisadora estima que serão necessários pelo menos quatro anos para realizar estudos clínicos. Como se trata de uma molécula de alta estabilidade, a BTCI pode ser facilmente administrada, inclusive por via oral.
Uma coletânea dos estudos sobre a BTCI, que contou com apoio de diversos pesquisadores, foi apresentada no 1º seminário de medicina translacional, realizado na UnB no começo deste mês.

História
Um dos principais pontos para o sucesso da pesquisa foi o profundo conhecimento adquirido em 40 anos de pesquisa do professor emérito da UnB, Manuel Mateus Ventura. Vindo de Fortaleza, capital do Ceará, ele trouxe o conhecimento sobre o feijão-de-corda e criou a pós-graduação de Biologia Celular da UnB, onde estudou a BTCI junto com Sônia, que hoje coordena o laboratório.
De acordo com a pesquisadora, este conhecimento proporcionou um estudo aprofundado.
É uma pesquisa vertical. Iniciou-se com a purificação e a caracterização da molécula e hoje já estamos com a estrutura atômica, obtida a partir de dados do cristal da proteína coletados no Laboratório Nacional de Luz Sincroton, em Campinas – diz Sônia.
Ela explica que, ao conhecer a estrutura da molécula, pode-se predizer mecanismos celulares e consequentemente a função biológica destes.
Alunos de doutorado e mestrado continuarão o estudo. Um deles, em colaboração com Ricardo Bentes e a aluna Graziella Joanitti, investiga a ação da molécula encapsulada em camundongos com câncer. Outro, em colaboração com Luciano Paulino, Marcelo Bemquerer e Manasses Fonteles, estuda a ação do BTCI em relação à hipertensão.

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