6 de abril de 2012

MANTENDO A VELHA TRADIÇÃO – EMAS PB



Rosélia Santos

P
oucas cidades brasileiras conseguem manter vivas suas tradições. Quanto maior for a cidade, menor é a possibilidade de mantê-las.  O fluxo constante de pessoas oriundas de outras regiões dificulta os grandes centros urbanos em manterem suas culturas.
Nas pequenas cidades, é a saídas das pessoas em busca de trabalho e de melhores condições de vida o principal fator que contribui para o desaparecimento de suas riquezas culturais.
Fugindo a essa regra, a pequena cidade de Emas, encravada no vale do Piancó, no sertão paraibano, mantém viva a tradição dos velhos 'Caretas'. São homens simples, vestidos de roupas produzidas com papelão e sacos de nylon, portando chibatas e representando aqueles irão castigar Judas por trair a Jesus Cristo, em seus últimos momentos de vida.
Essa tradição é mantida a mais de 50 anos.
Na quarta feira santa, um pequeno grupo de 'Caretas', constituído por agricultores oriundos das localidades de Riacho do Boi e Curral Velho, percorrem as ruas da pequena cidade de Emas, 'assombrando' crianças e recolhendo contribuições, principalmente, em alimentos. A cidade inteira fica movimentada. Homens e mulheres, jovens e idosos se misturam, participando de uma tradição que já constitui parte do patrimônio imaterial do povo do sertão paraibano.
A tradição não termina aí. Na noite da sexta feira, na comunidade Riacho do Boi, onde o grupo se reúne, dá-se a segunda etapa desse evento. Um boneco é confeccionado com roupas velhas e representa Judas. O boneco é amarrado num tronco de pau, no meio de um círculo feito com cordas.
Em seguida, o que foi recolhido na cidade e pelas localidades circunvizinhas vai sendo colocado em pequenas quantidades junto ao boneco no meio do círculo de corda e protegido pelos 'Caretas' com suas chibatas.
Daí começa o desafio! A população participa de forma inusitada. Isto é, tentando 'furar' o cerco dos 'Caretas' e pegar algum alimento. Enquanto eles tentam roubar os alimentos, os 'Caretas' vão utilizando a chibata de forma muito real. Alguns, de pouca sorte, levam várias chibatadas. Outros mais velozes até conseguem pegar alguma coisa.
Apesar das chibatadas serem de verdade, existe uma regra: os 'Caretas' não podem bater com a chibata na parte superior do corpo. Os participantes somente podem ser atingidos da cintura para baixo.
A tradição dos 'Caretas', que é mantida no município de Emas, consegue misturar fé, solidariedade e porque não dizer, diversão. A sobra, ou seja, aquilo que ninguém consegue retirar do centro do círculo protegido pelos 'Caretas' é doados para as famílias carentes.
Enfim, como acontece com todos os Judas onde a tradição permanece, Nordeste afora, o boneco é espancado e rasgado a meia noite. Istó é, malhado! Por isso, a expressão "a malhação de judas". 
Que belo país é esse nosso, tão rico em tradições, mas ainda tão pouco conhecido por nós mesmos.
 
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