Mais de 50 pesquisadores da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) perderam parte do material que desenvolveram nos últimos
quatro anos, no último fim de semana, quando um equipamento do Departamento de
Nutrição queimou na Cidade Universitária, Zona Oeste do Recife. A máquina em
questão era um freezer com temperatura de -80ºC, utilizado para armazenar
material biológico de alto custo financeiro e científico, de relevância
nacional e internacional.
“Não tem o que fazer, vamos começar tudo de novo”,
foi o que disse o coordenador da pós-graduação do Departamento de Nutrição,
Raul de Castro. O refrigerador mantinha pesquisas de vários lugares do mundo,
uma vez que o departamento tinha convênios com universidades da França e
Canadá, por exemplo. “Ontem recebi um e-mail de um pesquisador do México,
preocupado. Eu disse para ele que não tinha com o que se preocupar porque
perdemos tudo”, lamentou.
De acordo com pesquisadores, o equipamento quebrou
após uma série de quedas de energia. O mostrador de temperatura marcava, na
manhã da segunda-feira (6), um valor muito mais alto do que as amostras
suportavam. Todas elas descongelaram. “Quando chegamos ao departamento, o
freezer estava com 16ºC. De lá para cá, ninguém mais fez coleta, todo mundo
parou mesmo, ficamos sem saber o que fazer”, afirma a doutoranda e professora
do departamento, Lígia Galindo. Ela explica que o freezer guardava sangue
humano e de animais, amostras de órgãos como fígado e encéfalos, tecidos
musculares e outros materiais biológicos. Como não há muitos congeladores desse
tipo, a máquina guardava material de outros departamento e áreas como nutrição,
neuropsiquiatria, estudos de comportamento, odontologia, patologia, energia
nuclear, fisioterapia e fisiologia. O material, no entanto, ainda não foi
descartado e cada caso será analisado separadamente.
Ainda segundo Raul de Castro, o refrigerador estava
protegido contra quedas de energia por um gerador, que não disparou porque
pifou com a instabilidade da eletricidade. “O máximo que poderia aguentar é que
ele ficasse a -60°C, uma temperatura ainda razoável”, afirmou Raul. Muitos dos
pesquisadores estão com os estudos parados durante esta semana por não terem
como dar continuidade às análises sem o material que estava no refrigerador.
Quem precisar continuar e tiver que guardar algum material à temperatura de
-80ºC deve procurar outro equipamento na universidade. O freezer se encontra
desligado no momento, e os pesquisadores afirmam que só vão voltar aos
trabalhos quando tiverem segurança para guardar o material sem se preocupar com
queda de energia. “Não adianta colocar o freezer para funcionar agora enquanto
não estivermos seguros. Ainda estamos tentando consertar o gerador”, explica
Lígia.
Raul reclama também do mau fornecimento de energia
elétrica pela Companhia Energética de Pernambuco (Celpe) à Cidade
Universitária, além dos problemas de infraestrutura da instituição de ensino.
“Isso já vem de vários anos, há várias administrações. A infraestrutura da
eletricidade na universidade é precaríssima. São coisas básicas que foram
deixadas de lado durante muitos anos”, reclamou o coordenador. Ele conta que,
no início dos anos 2000, um incêndio que também teve origem elétrica, fez com
que o departamento perdesse animais de pesquisa, atrasando diversos projetos de
mestrado e doutorado.
De acordo com a professora Sandra Lopes, ainda não
foi possível somar os prejuízos financeiros que o refrigerador quebrado trouxe
ao departamento. “São vários anos de amostras acumulados, não conseguimos
calcular. Ainda estamos em ação, muitas coisas estão em jogo”, afirmou Sandra.
Todos os professores confirmaram que o reitor da UFPE, professor Anísio
Brasileiro, tem prestado apoio, solicitude e solidariedade ao caso, tendo
ficado a par da situação rapidamente e também tentando resolver o problema com
agilidade.
Em nota oficial, a Celpe comunicou ao G1 que não registrou qualquer
ocorrência nos circuitos de alta tensão que suprem o Campus da UFPE entre a
sexta e a segunda-feira (6).
Fonte: g1.globo.com/
Por: Lorena Aquino
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