16 de janeiro de 2011

O ÉDEM


Os dois formando um só, Adão e Eva, passeiam pelo paraíso na inocência do seu coração, na virgindade de seu amor: tudo corre ao seu chamamento, a terra tudo produz por si mesma; a natureza sorri, as águas correm límpidas e doces. O Senhor os conduz pela sua mão e enche-os de graça e benefícios: os seus pensamentos são retos e santos; os seus desejos ilibados e puríssimos. Neste período de suma perfeição as paixões ainda não muchavam as flores da castidade e justiça; a atmosfera ainda não era infeccionada e corrupta; o tigre ainda não aguardava a preza para a devorar; a águia ainda não empolgava nas suas garras o açor; a procela ainda não rugia; os relâmpagos ainda não fuzilavam no espaço;  o boreas ainda não aluía os arvoredos; o oceano ainda não ameaçava os continentes; as sombras da noite ainda não eram tenebrosas; os abismos ainda não engoliam vitimas; o pranto, a desolação e a morte ainda não existiam. Tudo era Santo, e no meio de tudo viviam os dois esposos a vida da inocência.
O Senhor disse-lhes: crescei e multiplicai-vos: tudo ponho às vossas ordens e sereis venturosos em quanto fordes fiéis aos meus avisos e preceitos. Este casto himineu modelo de todos os matrimônios, tesouro inexaurível de todas as graças; gérmen das futuras sociedades, primórdio de toda a civilização, tipo da mais simbólica e harmônica aliança, teve por sacerdote o Criador, por sujeito dois corações virgens, por testemunhas os anjos, por leito nupcial a terra.
Admiremos o berço do gênero humano, o Édem d’inocência, os infinitos predicados da Divindade, e glorifiquemo-la nas suas obras, porque este é o fim de toda a criação.

Vigário José Augusto da Cruz.
Fonte: Almanaque de Lembranças Luso-Brasileiro
Lisboa - 1867

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita!
Fique a vontade e volte quando quiser.
Deixe seu comentário no quadro abaixo.
Bjussss Rosélia Santos.