5 de fevereiro de 2011

EU DEVIA. AH! SIM. COMO EU DEVIA!!


Sei que ainda te amo. Mas não devia.
Sei que ainda penso muito em você. Mas não devia.
Sei que me acostumei com o teu olhar, teu sorrir, teu abraçar... Mas não devia.
Sei que ainda não olho para os lados para ver outras pessoas.  Mas não devia.
A gente se acostuma a só ter olhos para quem ama. Mas não devia.
A não querer outra vista. Mas não devia.
E, por não desejar outra vista, logo se acostuma. Mas não devia.
Sei que esqueci quão belo é o sol, o ar, a amplidão. Mas não devia. Eu sei!
Acostumei a acordar de manhã sobressaltada por medo de sua partida.  Não devia. Eu sei...
A tomar café te olhando como se fosse o único. Mas não devia.
A ler o jornal só depois de você. Eu sei. Mas não devia.  
Acostumei a cochilar esperando sua vinda e isso nunca acontecia... Mas não devia. Eu sei!
A deitar cedo e dormir na esperança de um outro dia. Eu sei.
Sei que não vivi o dia presente. Mas não devia.
Acostumei a ler sobre a guerra.
Com medo de ler poesias. Mas não devia.
Aprendi a aceitar os mortos.
E, aceitando os mortos, aceitei não acreditar num outro amor. Mas não devia.
Acostumei a te esperar o dia inteiro e ouvir no final: um não posso.
Acostumei a ser ignorada quando precisava desesperadamente ser vista.
Acostumei a andar na rua e ver casais felizes ou brincando de ser.
Senti inveja...  Mas não devia. Eu sei.
Acostumei a ligar a televisão e assistir a comerciais, por você não ter aparecido. Mas não devia.
A gente acostuma a coisas demais, por medo de sofrer. Não devia!
E aos poucos, em doses pequenas, tentando não perceber, vai deixando uma dor aqui, uma revolta ali, um ressentimento acolá, uma tristeza hoje e um consentimento amanhã.
A nossa alegria, nosso amor, nosso carinho e por fim, a vida, que aos poucos se gasta, de tanto acostumar... acaba se perdendo de si mesma.
Acostumei a não mais chorar com suas idas e vindas na minha vida. Não devia. Eu sei.
Acostumei com tua ausência... Eu sei... Não devia.
Hoje, já não penso no teu olhar, no teu sorrir, teu abraçar.
Aprendi que preciso olhar para os lados e desejar outra vista.
Lembrei-me de quão belo é o sol, o ar, a amplidão e adorar a acordar calma sem pensar em sua partida.
A tomar o café e ler o meu jornal.
A deitar tarde... adormecer e sonhar.
Viver cada minuto do meu presente e precioso dia.
A ler sobre poesias e esquecer as guerras. Contudo, chorar pelos mortos.
Acreditar num mundo melhor e, acima de tudo, no amor.
Aprendi a me amar o quanto preciso ser amada.
A andar na rua e ver casais felizes.
A ver televisão e rir dos comerciais.
Enfim, acostumei-me a coisas.
E aos poucos, em doses pequenas, percebi, que uma dor aqui, uma revolta ali, um ressentimento acolá, uma tristeza hoje e um consentimento amanhã, nos ensinam o caminho a seguir até nossa alegria, nosso amor, nosso carinho e por fim, até a nossa vida.
Eu devia. Ah! Sim. Como eu devia!!

Um comentário:

Oliveira Neto disse...

Lindo poema! Parabéns mesmo!

Sucesso!

Oliveira Neto
http://oliveiranetto.blogspot.com
www.cordasdamantiqueira.com.br

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