A civilização mais antiga da Europa acaba de
perder parte da sua aura de mistério, graças a análises de DNA.
Os novos dados genéticos sugerem que os
minoicos, construtores de palácios na ilha de Creta, eram aparentados aos
atuais habitantes da Grécia e a outros mediterrâneos, como os portugueses.
O resultado surpreende porque, desde a
descoberta dos palácios minoicos no começo do século passado, os arqueólogos
tendiam a enxergar a civilização de Creta como totalmente diferente dos gregos
que vieram depois.
Para o britânico Sir Arthur John Evans
(1851-1941), responsável por escavar a metrópole cretense de Knossos, a arte e
a arquitetura do lugar sugeriam influências do Egito e da Líbia.
Apesar disso, Evans batizou os construtores
de Knossos com um nome inspirado na mitologia grega. É que Minos, para os
gregos, era o nome de um rei mítico de Creta, e as salas do palácio de Knossos
lembravam, para Evans, o labirinto no qual, segundo o mito, vivia o Minotauro,
monstro com cabeça de touro e corpo humano.
Pinturas minoicas mostram uma espécie de
tourada, na qual acrobatas saltavam por cima dos animais. Estudos posteriores
mostraram que a civilização floresceu de 2700 a.C. a 1500 a.C
Em estudo na revista “Nature Communications”,
a equipe liderada por George Stamatoyannopoulos, da Universidade de Washington
em Seattle (EUA), analisou o DNA de 37 indivíduos sepultados em cavernas da
região de Lassithi, no centro-leste da ilha, no período minoico.
O material genético obtido das ossadas foi o
DNA mitocondrial, presente nas “usinas de energia” do organismo e transmitido
só de mãe para filho. Como ele está em muitas cópias nas células, isso facilita
sua recuperação em amostras muito antigas.
Comparando esse DNA com o de 135 populações
atuais e antigas, Stamatoyannopoulos e companhia viram que os povos do norte da
África estavam entre os parentes mais distantes dos cretenses.
O material genético minoico batia mais com
moradores atuais de Lassithi, outros gregos antigos e modernos, portugueses e
habitantes da Sardenha na Idade do Bronze.
A hipótese do pesquisador é que os minoicos
foram um “produto nacional”, descendentes dos primeiros homens modernos a
colonizarem Creta, há 9.000 anos, oriundos da atual Turquia e dos Bálcãs.
Se isso for verdade, a época bate com a difusão
inicial das línguas indo-europeias, como o grego e o latim.
“Temos evidências convincentes de que os
minoicos tinham a mesma origem que os indo-europeus”, afirmou
Stamatoyannopoulos à Folha. E, para ele, isso pode ser uma pista crucial para
decifrar a escrita minoica.
O autor reconhece uma limitação nos dados:
como só é passado pela linhagem materna, o DNA mitocondrial pode estar
associado a povos anteriores subjugados por gregos, e isso explicaria a
continuidade entre minoicos e a Grécia moderna.
Ele diz que agora vai buscar dados sobre o
cromossomo Y, a marca genética da masculinidade, nas populações cretenses.
Reinaldo José Lopes
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