Ela poderia ter sido a “Garota de Ipanema”,
eternizada na música de Tom Jobim, quando desfilava pelo bairro ostentando
charme e beleza. Anamaria Carvalho, mais conhecida como a “Mulher de Branco”,
cresceu no meio artístico e efervescente do Rio na década de 70. Foi vizinha de
Tom, casada com o compositor Marcos Valle e ajudou a divulgar a bossa nova pelo
mundo. Hoje, ela perambula sem rumo pelas ruas de Ipanema, sempre munida de um
carrinho de feira, esbanjando carisma e distribuindo sorrisos para os passantes.
O G1 localizou
Anamaria na tarde desta quinta-feira (5), sentada em um bar da Rua Vinícius de
Moraes, em Ipanema, na Zona Sul do Rio. Dividindo a mesa com mais dois amigos,
ela parecia se divertir mais sozinha. Ela, que já morou em Paris e na
Califórnia, contou como vive há quase 66 anos, prestes a serem completados no
dia 15 de setembro.
“Minha juventude foi musical. Ao longo do tempo fui
aprendendo a tocar vários instrumentos. Fui vizinha do Tom Jobim no Leblon e em
Los Angeles. Eu nunca compus, mas ele me mostrava tudo que ele fazia. Eu
conheci o Marcos Valle em uma reunião em Ipanema, quando eu era solteira. Nós
nos conhecemos e seis meses depois estávamos casados. Ficamos juntos por quatro
anos e cantávamos muito.”
Ana voltou ao cenário cultural há dois anos, quando
o jornalista Chico Canindé lançou o documentário “Anamaria - A mulher de branco
de Ipanema”. O filme foi exibido pela primeira vez em setembro de 2011, com
duas sessões lotadas.
“Eu sempre quis desvendar a história da Mulher de
Branco de Ipanema. Acompanho de longe os passos dela desde o início da década
de 90. Em 2009, com a ajuda do publicitário e produtor Álvaro Saad Peixoto, o
projeto criou forma e decidimos começar a rodar o documentário. Convencê-la a
participar das filmagens não foi problema algum. Anamaria tem muita
desenvoltura frente às câmeras e também adora posar para fotos. Algo que
certamente traz da época em que vivia sob os holofotes”, contou Chico.
Filha do radialista Luis de Carvalho, Ana diz que
tem três filhos biológicos e um adotivo. “A minha família está por aí. Eu os
vejo quando Deus nos liga de novo. Netos, que eu saiba, ainda não tenho.”
O apelido “Mulher de Branco” não faz mais jus às
roupas que ela veste, já que agora ela adotou o azul como cor oficial de suas
indumentárias. “Eu me vestia de branco porque minha avó tinha falecido e o
branco é o luto japonês. Embora eu não seja japonesa, eu não quis usar preto naquela
época. A gente fica muito frustrado quando perde um parente que a gente gosta.
Eu mudei do branco para o azul por causa de uma música [de Wilson Simonal]
'Vesti azul, minha sorte então mudou'. O azul é a cor da nobreza celestial”,
revelou.
Canindé ficou próximo de Ana por filmá-la durante
dois anos. O que tirou Anamaria dos holofotes ainda é um motivo desconhecido e
que ela mesma desconversa ao ser questionada.
“Na minha opinião, em determinado momento de sua
vida, Anamaria saiu do lugar comum criando um universo próprio, em paralelo,
cheio de poesia e, ainda, com muita música, uma de suas paixões. Ana tem muitos
amigos em Ipanema, famosos e anônimos. Ela viveu a década de 70 envolvida no
movimento de contracultura”, opina o jornalista.
Ao contrário do que muitos pensam, Anamaria não
mora na rua, mas em um apartamento em Ipanema. “Hoje em dia eu me hospedo, eu
não moro. Porque eu tenho uma vida muito agitada.” Agitada ou não, o que fica
visível ao esbarrar com Ana por Ipanema é que até “no peito dos desafinados
também bate um coração”, parafrasendo outra música do eterno poeta Tom Jobim.
Fonte: g1.globo.com
Por: Lívia Torres
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