Será que zumbis podem ser temas de estudos
acadêmicos? E, mais além, será que eles podem fazer parte de novos rumos
adotados pelo ensino superior?
Do que está sendo chamado de o maior experimento na
área de “edutenimento” (mescla entre educação e entretenimento), uma emissora
americana está firmando uma parceria com uma universidade californiana para
produzir cursos online relacionados à série
televisiva de ficção The Walking Dead,
que retrata um mundo dominado por zumbis.
O curso, de oito módulos, será lançado em outubro
pela Universidade da Califórnia em Irvine e disponibilizado gratuitamente pela
internet, criando uma interação entre a academia e a indústria do
entretenimento.
A universidade diz que manterá seu rigor acadêmico
e que o curso abordará temas científicos sérios relacionados ao cenário
apocalíptico do seriado, como “o que pode ser aprendido com epidemias” e “uso
da matemática para modelar dinâmica populacional e epidêmica”.
O curso incluirá testes online e grupos de
discussão, mas os estudantes não ganharão títulos ou créditos formais.
The Walking Dead, com audiência estimada em 10
milhões de espectadores, é transmitido no Brasil pela Band e pela Fox e, nos
EUA, pela AMC, emissora responsável por outros seriados cultuados, como Mad
Men, Breaking Bad e The Killing.
Para Theresa Beyer, vice-presidente da emissora, a
AMC será “o primeiro grupo de entretenimento a fazer uma incursão na arena
educacional” e que o resultado será “uma experiência educacional legítima”.
Se a experiência for bem-sucedida, deve abrir
caminho para outros projetos envolvendo seriados e universidades, afirma a
plataforma online Instructure, que abriga o curso com Walking Dead.
Não é difícil, por exemplo, imaginar um curso de
publicidade criado em torno de Mad Men, diz Josh Coates, executivo-chefe da
Instructure.
A parceria também marca novo avanço no mundo dos
cursos gratuitos online (MOOCs, na sigla em inglês, que acaba de entrar no
dicionário Oxford), cuja demanda tem crescido.
Mas, sob a perspectiva da prestigiosa Universidade
da Califórnia em Irvine - que tem prêmios Nobel entre seus pesquisadores -,
vale a pena ter zumbis em seu currículo?
“Quando embarcamos nessa parceria, tornou-se
importante fazer com que cada módulo (do curso online com Walking Dead) fosse
tão forte do ponto de vista acadêmico quanto são nossas aulas presenciais”, diz
Melissa Loble, reitora-associada de educação à distância da universidade.
“As aulas terão rigor acadêmico e ainda assim terão
ligação com o seriado de TV.”
Para Joanne Christopherson, palestrante em ciências
sociais, trata-se de mais um exemplo de como as universidades estão usando a
mídia contemporânea.
“Em todas as minhas aulas, tenho de abordar temas
da atualidade para torná-las interessantes”, diz ela. “Não só porque (os
alunos) são jovens adultos recém-saídos do ensino médio, mas sim porque é
preciso fazer com que essas teorias clássicas sejam relevantes para eles.”
Coates, do Instructure, diz que o curso da
Universidade da Califórnia incluirá ciência e temas relacionados às ciências
sociais, usando o seriado de TV como gancho. “Trata-se de um currículo real,
incluindo doenças infecciosas, saúde pública, nutrição, psicologia e sociologia”,
diz. “É incidental o fato de que o contexto dele é o mundo ficcional do
apocalipse (da série).”
Segundo ele, é também uma oportunidade de ensinar
as pessoas a respeito de catástrofes reais, como o furacão Katrina ou o
desastre de Fukushima.
Coates também espera que a iniciativa ajude a
superar um dos principais obstáculos dos cursos online gratuitos: as altas
taxas de desistência.
Ao mesmo tempo, para a universidade trata-se de uma
forma de expor sua marca diante de uma audiência global, bem como refinar o
processo de colocar cursos na internet.
“Os primeiros cursos tinham ótimos vídeos e
quizzes, mas não ajudavam os alunos a interagir entre si”, diz Melissa Loble. “O
próximo passo dos cursos online é descobrir como personalizá-los sem que se
tornem um fardo para as instituições que os criaram.”
Para Christopherson, a grande demanda por cursos
online tem chamado a atenção das universidades, mas segue sendo um desafio
prover uma estrutura online que permita que um número grande de alunos
acompanhe o curso sem se sentirem anônimos ou desconectados.
Outra questão de longo prazo é o modelo de
financiamento dos cursos online, algo que pode desestimular as universidades
ante as altas taxas de desistência.
Alan Smithers, diretor do centro de pesquisas de
educação e emprego da Universidade de Buckingham (Reino Unido), diz que o elo
com um cultuado seriado de TV pode servir para atrair estudantes, mas que o
elemento acadêmico tem de superar o entretenimento.
Mesmo com os desafios, os cursos online continuam
expandindo. E Coates diz que quer que a iniciativa com The Walking Dead seja
vista, no futuro, como um divisor de águas, do momento em que educação e
entretenimento se conectaram.
Com a disponibilidade global dos cursos online, e
enquanto emissoras do mundo inteiro transmitem diferentes temporadas dos
seriados, talvez este seja o primeiro curso universitário a vir com seu próprio
alerta de spoiler (que traz revelações sobre conteúdo dos episódios).
Fonte:r7.com
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