Além de terra, minerais e água, o solo do
município de São José da Tapera esconde história. Fósseis de Preguiça Gigante,
Mastodonte, Tatu-Gigante, Toxodon e Paleolhama foram descobertos recentemente
nas escavações das obras trecho 4 do Canal Adutor do Sertão. Vestígios de
vida da Era do Gelo em pleno Sertão alagoano.
No dia 6 de dezembro os últimos fósseis foram
retirados da escavação pelo paleontólogo, professor universitário e diretor técnico
de Paleontologia do Museu de História Natural da Universidade Federal de Alagoas
(Ufal), Jorge Luiz Lopes.
“Foi um achado incrível. Temos dentes, ossos,
e tudo foi devidamente preservado e catalogado. Nesta última viagem, foram 12
caixas só para trazer o material para o museu em Maceió”, afirmou.
A obra faz parte do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), do Governo Federal, e compreende a inversão de fluxo,
ampliação e melhorias do Sistema Adutor do Alto Sertão de Alagoas, a partir da
interligação com o Canal do Sertão, cuja extensão total prevista é de 250
quilômetros. Com o investimento de mais de R$ 89 milhões, a previsão é de que o
empreendimento seja concluído em 2015, de acordo com o Ministério da
Integração.
De acordo com Lopes, o aumento em obras de
grande porte, como o Canal do Sertão e duplicações de rodovias, que envolvem
relatórios exigidos pelos órgãos ambientais competentes, além da ampliação na
pesquisa e extensão de paleontologia, têm favorecido o crescimento de
incidência de fósseis no estado. “Quando um fóssil é encontrado em uma obra, é
necessário que o serviço seja paralisado até que se faça uma pesquisa e remoção
do do material e depois é liberado”, destacou.
A Secretaria de Estado da Infraestrutura
afirmou à reportagem do G1 que as obras
não foram paralisadas desde que iniciadas em todos os trechos e que desconhece
até o momento, relatórios de achados de fósseis no local.
Graças a esses fatores, o número de
municípios que registram incidências de descobertas de fósseis em Alagoas
quadruplicou nos últimos oito anos, segundo o paleontólogo. “Nos municípios de Penedo,
São Luis do Quitunde, Anadia, Maravilha, Ouro Branco e Poço das Trincheiras
sempre havia relatos de achados de fósseis. Hoje passou de seis para 24
municípios com incidências, principalmente fósseis mamíferos, que são o foco
dos nossos estudos”, contou.
Nos 24 municípios pesquisados, há mais de 100
sítios paleontológicos, sendo 50 só de fósseis mamíferos já georeferenciados
pela equipe do museu da Ufal. “Nessas pesquisas já chegamos a catalogar 14
espécies diferentes de animais mamíferos fossilizados em Alagoas, a exemplo da
Preguiça Gigante, do Mastodonte, que eram parentes dos elefantes e os toxodons,
parentes do hipopótamo. Dinoussauro, por enquanto não achamos”, destacou o
especialista.
Há milhões de anos, as condições climáticas e
ambientais da região que hoje é Alagoas favoreceram o processo de fossilização,
segundo Jorge Lopes. “Esses organismos viraram fósseis por causa do clima do
passado. Eles não se degradaram no clima de hoje, graças às condições do tempo
e ambientais de antigamente”.
De acordo com Lopes, o fóssil mais antigos
chega a registrar 420 milhões de anos. “Há três meses, um morador encontrou
fósseis de vestígios de atividades, como pegadas e vestígios de organismos no
Semiárido. Ou seja, são fósseis do período devoniano, da era Paleozóica”.
“Os fósseis do Litoral são de animais que
viviam na Bacia Sergipe e Alagoas. Eles são mais antigos que os encontrados no
interior. Têm em torno de 120 milhões de anos, pois são da era Paleozóica, do
Cretáceo. Na grande Maceió, são encontrados mais peixes e troncos
fossilizados”, afirmou Lopes.
O achado dos fósseis é como uma espécie de quebra-cabeça para os pesquisadores
e historiadores. De fundamental importância para entender a história da região
de Alagoas e do passado do mundo. “São registros do nosso passado. Eles ajudam
a contar a história do passado da nossa região e vêm contribuindo para a gente
entender o que foi que aconteceu aqui e as mudanças que levaram esses animais à
extinção”, destacou o paleontólogo, ao afirmar que a idade dos fósseis
encontrados varia entre 10 mil e 100 mil anos.
Esses resultados de estudos e pesquisas são
apresentados em congressos, publicações científicas além de revistas
especializadas. O número de paleontólogos, ou paleontolistas em Alagoas não
condiz com o crescimento de estudos realizados nos últimos oito anos no Estado.
Há apenas dois, contando com o professor Jorge Luiz Lopes, em Alagoas. A outra
paleontóloga é Márcia Cristina, professora e pesquisadora no curso de Biologia,
no campus da Ufal em Arapiraca.
O crescimento do acervo e coleções de fósseis
em Alagoas é tão grande, que segundo o professor, a estrutura do museu hoje não
comporta tal aumento. “Estamos localizados na Rua Aristeu de Andrade, no bairro
do Farol, mas queremos sair, porque chegamos no limite de ocupação e pode
prejudicar a conservação dos fósseis”, diz o professor.
A reitoria do curso pediu de volta a
apropriação do prédio do ICBS, que hoje é ocupado pelo Instituto Médico Legal
em Maceió, e a Secretaria de Defesa do Estado garantiu que até março de 2014,
quando o novo prédio do IML estará pronto, eles desocuparão o local”, afirma
Lopes.
“Quando achar fósseis ou esqueletos do tipo,
é só entrar em contato com o museu e a equipe vai até o local. É a melhor forma
de manter, conservar e preservar o material e a história. Tudo aquilo que está
abaixo de 50 cm, ou seja, no subsolo, é da nação, não pertence a ninguém.
Fósseis são patrimônios da nação e o tráfico deles é crime inafiançável.
Tentamos sempre convencer que o lugar ideal desse material é no museu e com
pesquisadores”, alerta o paleontólogo Jorge Luiz Lopes.
Do G1 AL
Por: Natália Souza
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