22 de janeiro de 2014

DORIAN GRAY: “CAMINHOS DA MODERNIDADE”


As formas tridimensionais no muro e no portão dão as primeiras pistas; o painel em baixo-relevo na fachada do imóvel não deixa brechas para dúvidas: ali mora um artista. Wanda Dione, com quem Dorian Gray Caldas está casado há 53 anos, atende a porta e revela o artista muito bem sentado à mesa no centro da sala, entre telas e livros. Dorian recebeu a reportagem do VIVER para falar sobre sua nova exposição. Em cartaz a partir de hoje, às 19h, na galeria de arte do IFRN-Cidade Alta, “Caminhos da Modernidade” apresenta a safra atual de um dos artistas visuais mais ativos do Rio Grande do Norte. A visitação pública segue até o próximo dia 14 de fevereiro
Com curadoria da filha Dione Caldas Xavier, também artista plástica e atual diretora do Teatro Alberto Maranhão, e da professora do Instituto Federal Mára Mattos, a mostra traz quase três dezenas de obras inéditas onde Gray refaz seus caminhos entre praias, jangadas, casarões, autos festivos, personagens folclóricos e o cotidiano natalense. Apesar dos temas recorrentes, o artista procura se “reinventar atento para não me repetir” e confessa que a melhor coisas que faz são os quadros de marinas: “Não importa o tamanho da tela, dizem que consigo imprimir toda toda a dimensão de uma marina independente do formato”, orgulha-se.
“Caminhos da Modernidade” reúne dez telas pequenas (20 cm x 20 cm), dez grandes (1 metro x 90 cm) e 5 médias (60 cm x 50 cm) – todas à venda. “Tudo inédito, produzi ao longo de 2013. Pinto todo dia, tem vezes que faço dois quadros por dia”, garante. Entre idas e vindas de pensamentos, onde adianta detalhes de seus próximos projetos (lançamento de livro e exposição na Europa), o artista informa que uma das coisas mais tem preguiça de fazer é assinar o nome nas obras. “Por isso dei uma estilizada com o ‘DGray’ nos quadros e na tapeçaria. Quando é desenho assino como um cheque”.
Prestes a completar 84 anos de idade no próximo dia 16 de fevereiro, Dorian Gray Caldas, com seus cabelos brancos e grossas sobrancelhas pretas, é considerado baluarte da cultura poti, que escreve, poetiza, tece e pinta – muito provavelmente, o mais experiente entre seus contemporâneos.
Testemunha da Natal cosmopolita de outrora, memórias que resistem em meio a veloz transformação urbana que a cidade enfrenta, protagonizou ao lado do parceiro Newton Navarro e de Ivon Rodrigues a primeira exposição modernista em Natal no início dos anos 1950. “No começo eu era um classicista, pintava tal qual a realidade. Meu primeiro contato com o modernismo veio por intermédio de um tio, e quando Navarro me convidou para participar daquela exposição não tinha feito nada modernista ainda. Mesmo assim aceitei e comecei a estudar e produzir. A transição foi fácil, a possibilidade de interpretar me atraiu”, recorda. E lá se vão mais de 60 anos dedicados às artes.
Dorian Gray Caldas está em plena atividade artística e também produz telas para outra exposição prevista para o meio do ano na Noruega. “O cônsul Jen Olesen, que também é curador, esteve aqui em Natal e me encomendou um quadro, um retrato dele, e ficou muito satisfeito com o resultado. Bem ligado em artes visuais, tem muita vivência na Bienal de SP, e conheceu meu trabalho quando esteve aqui pela primeira há uns três anos. Disse que meus quadros lembram Munch (Edvard Munch, 1863-1944, pintor norueguês autor d’O Grito). Comprou e fez o convite”.
Dorian Gray disse que tem trabalhos já separados, e como é uma exposição internacional está levando telas que retratam paisagens de Florença, Veneza e Paris. “Mas tem muito a ser feito ainda”, destaca.
Essa fase produtiva se sobrepõe ao período que enfrentou problemas de saúde em 2012. “Estive três vezes na UTI, uma atrás da outra, devido o Diabetes. Por conta da doença tive um enfarte, edema pulmonar e pneumonia. ‘Quase viajo’, como sequelas estou andando com dificuldades, sem segurança na perna esquerda”, lamenta. “Não quero isso para ninguém. Agora a saúde está ótima, perdi dez quilos”. Como resultado, Dorian carrega pra cima e para baixo uma bengala, que auxilia no deslocamento.
Também poeta e crítico de arte, Dorian Gray Caldas trabalha na edição de “Do outro lado das sombras”, livro que reúne poemas escritos entre 1964 e 2005. “São dois volumes que devem ter juntos, mais de mil páginas e mais de mil poemas”. Ele está na fase final de revisão e, na mesma mesa onde conversou com o VIVER, ao alcance das mãos, repousam rascunhos originais e algumas versões pré-impressas do que será o livro - ainda sem data prevista para lançamento, o título será publicado a partir da parceria entre o IFRN e a UFRN.
Ele aproveita o ensejo e junta fotografias pessoais, devidamente comentadas, para contextualizar o registro dos escritos e as épocas que o livro atravessa: tem foto de Dorian lançando livro no Rio de Janeiro em 1961 ao lado da esposa Wanda, de Miriam Coeli e Luiz Carlos Guimarães. “Éramos oito naquela ocasião; em outra imagem aparece lendo textos para um jovem Sanderson Negreiros. “Sanderson devia ter uns 16 ou 17 anos nessa foto”, lembra.
 
Abertura da exposição “Caminhos da Modernidade”, de Dorian Gray Caldas. Hoje, na galeria de arte do IFRN-Cidade Alta (Av. Rio Branco, 743), às 19h. Em cartaz para visitação pública até o próximo dia 14 de fevereiro

 

Fonte: tribunadonorte.com.br
Por: Yuno Silva
Colaboração: Cinthia Lopes, editora


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