19 de julho de 2012

RELATO DA REPORTER NELMA FIGUEIREDO SOBRE A MORTE DE RONALDO CUNHA LIMA



Depois de responder tantas vezes sobre a minha visível emoção da cobertura da morte do ex-QUASE tudo, Ronaldo Cunha Lima, decidi usar este espaço e explicar, principalmente, aos jornalistas, como eu, porque esta cobertura foi diferente para mim, a ponto de me fazer tremer e chorar. Vou tentar.
Em 2012, comemoro 25 anos de atuação da TV. Minha editoria preferida sempre foi a política e isto me fez viver de perto a história política paraibana, por todo este período. Sei muito pouco dos bastidores e da história diante de mestres como Biu Ramos, Nonato Guedes, Martinho Moreira Franco, Agnaldo Almeida e Gonzaga Rodrigues, só para citar os mais próximos de mim… Mas o pouco que sei e vivi me orgulha e me faz agradecer a Deus por tantas oportunidades.
Quando comecei, na antiga Tv O Norte-Sbt, tendo Abelardo Jurema como Superintendente e Frutuoso Chaves como editor chefe, eu era uma menina, recém chegada de Brasília e com total desconhecimento da política paraibana. O único político que conhecia de perto era Wilson Braga, conterrâneo da minha mãe e ainda parente. Mas um dos meus primeiros desafios na TV foi fazer um programa semanal com o, então governador, Tarcísio Burity.
Meses depois, fui contratada pela TV CABO BRANCO-Globo. Mesmo não atuando só na área política, sempre era escalada para coberturas do gênero. Trazendo para Ronaldo, foi assim que cobri a campanha de 1990, a convenção que anunciou Cícero Lucena como candidato a vice e a posse dos dois, em 15 de março de 1991. Foi a primeira vez em que a posse de um governador paraibano foi transmitida, AO VIVO, por uma emissora de TV e dividi a missão com o colega e guru Nonato Guedes. A posse, na Assembléia Legislativa, foi à tarde. Mas, por ousadia, ainda sugeri que fizéssemos VIVO no JPB 2, já no Palácio da Redenção e Praça João Pessoa.
No governo Ronaldo, Maria Helena Rangel e eu fomos as repórteres da TV Cabo Branco que mais acompanhamos as ações administrativas e fatos políticos.
Eu nem precisava revelar que, em 90, não votei em Ronaldo, porque seu adversário foi Wilson Braga. Mas, conhecer Ronaldo de perto me fez entender porque cresci ouvindo meus pais falarem com tanta admiração daquele homem, que nos programas de TV sabia tudo sobre a vida e a obra de Augusto dos Anjos.
Enquanto eu cobria as ações do governo, Ronaldo me chamava de MINHA FILHA e me fez ter por ele um respeito que se tem ao próprio pai. Ele era avesso a qualquer formalidade.
Para contar só um caso. Certa vez, a TV CABO BRANCO marcou a gravação de uma entrevista com ele. Atrasado, chegou com o JPB2 no ar e criou um constrangimento, porque não poderíamos usar o estúdio. Os donos e editores ficaram tensos. Peguei o GOVERNADOR pelo braço, quebrei o protocolo e disse: quem mandou o senhor se atrasar?? Agora teremos que preparar o estúdio velho e improvisar um cenário.
Sorrindo, ele respondeu: “Não tem problema. Fico aqui conversando com você!”. E começou a cantar para mim e para os técnicos uma música que, até hoje, me faz morrer de rir quando lembro. Não vou revelar a canção. Mas era como se hoje a gente ouvisse um governador cantando uma destas músicas que ninguém consegue entender como fazem tanto sucesso. Ali, revelou toda a sua popularidade e humildade.
Mas deixa tentar diminuir o muído de Ronaldo…Vamos pular para o capítulo final (mesmo sabendo que a história de Ronaldo não acaba aqui).
No dia 26 de junho, o senador Cássio Cunha Lima usou o twitter para anunciar o agravamento do quadro e dizer que estava voltando à Paraíba para acompanhar de perto, ao lado da família.
Era OBRIGAÇÃO da imprensa estar lá. Mas, estranhamente, fui A ÚNICA repórter a passar a tarde inteira em frente ao apartamento da família em Tambaú. Ali, fiz uma entrevista EXCLUSIVA com o senador Cássio que deixou claro que a vida de Ronaldo chegava ao fim. No final de tarde, uma equipe de rádio passou por lá. Mas a concorrência só DESPERTOU depois que viu e ouviu Cássio no Jornal da Correio. Eu havia planejado para o dia seguinte a comemoração dos meus 25 anos de TV e logo avisei aos amigos que, se RONALDO partisse, a festa seria cancelada. Mas ele resistiu.
No dia 6 de julho, quando o quadro ficou ainda pior, também passei à tarde em Tambaú. Ali, por volta das três e meia da tarde, os médicos já admitiam que Ronaldo estava na agonia da morte, que acabou acontecendo no dia seguinte, às 9 horas e 35 minutos.
Não trabalho nos fins de semana. Mas, na hora em que Cássio usou o twitter para anunciar o descanso de Ronaldo, eu estava ao telefone com meu editor Silvio Osias e o que ouvi foi: CORRA PARA CÁ!!.
Cheguei à redação meia hora depois, ainda movida pela emoção da notícia.
A primeira missão foi localizar e gravar entrevista com o ex-governador José Maranhão sobre o legado de Ronaldo.
A segunda, uma entrevista com o senador Cássio, que falaria pela primeira vez, após a morte do pai. Cheguei atrasada. Perdi a coletiva. Mas ousei pedir ao vigilante do prédio que avisasse ao senador que eu havia me atrasado e ele desceu para falar só com nossa equipe. Ali, chorou diante das câmeras a despedida de Ronaldo e pediu perdão pelos erros do pai.
Foi com toda esta adrenalina que segui para o Palácio da Redenção para dividir a cobertura do velório com o colega Saimon Cavalcanti. Era ele que estava ao vivo, mas tomei para mim a missão de narrar diante da TV, a despedida de Ronaldo.
Fiz com a emoção de quem se apaixonou pelo poeta, que também foi vereador, deputado estadual, deputado federal, senador e que conheci candidato a governador. E foi ali que tremi.
Soube depois que, nos estúdios da TV, de onde era transmitido o programa Correio Espetacular Especial sobre a morte de Ronaldo, a editora chefa Cristina Dias, ao perceber que eu tremia, gritava para o cinegrafista fechar a imagem para não mostrar o microfone balançando em minhas mãos. Mas foi impossível esconder do telespectador que a repórter estava envolvida com a notícia como NÃO se deve fazer.
Desculpe, Cris. Mas só se a repórter não fosse eu e se o corpo no caixão não fosse o do poeta. Ele era intenso como eu…e é esta a principal razão de toda a minha emoção.
Nos últimos dias, mandei inúmeras mensagens à família, via twitter, sobre Ronaldo. Acho até que incomodei. Mas vou escolher uma para justificar meu excesso: Ronaldo viveu intensamente porque sua humildade nunca deixou que ele acreditasse que era imortal!!
Em 25 anos de jornalismo, cobri a morte de cinco governadores (ou ex) paraibanos. Em 6 de fevereiro de 1988, morria João Agripino e cobri desde a chegada do corpo no Aeroporto Castor Pinto.
Em 16 de setembro de 1995, foi numa entrada minha, ao vivo, no JPB2, que o então senador Ney Suassuna anunciou para a Paraíba a morte do Governador Antônio Mariz.
Em 25 de julho de 2005, cobri a morte do ex-governador Pedro Gondim.
Em 8 de julho de 2003, participei da cobertura da morte do ex-governador Tarcísio Burity, de quem também tive significativa aproximação a ponto de ouvi-lo falar da consciência de que a morte estava se aproximando e de quem, quando ainda não conseguia falar, recebi um bilhete manuscrito ‘NÃO QUERO VINGANÇA’, quando fui a primeira repórter a entrar no quarto que ele ocupava, no Hospital Samaritano, se recuperando dos tiros disparados por Ronaldo.
O chamado Caso Gulliver,em 5 de novembro de 1993, acabou sendo uma mancha na vida poética e política de Ronaldo. Mas, ao menos para mim, não consegue associá-lo à violência. Para mim, ficou claro que Ronaldo agiu por impulso, por amar demais e por ser intenso.
Como ouvi de Biu Ramos e Nonato Guedes, num programa de rádio: “O tiro disparado contra Burity também acertou Ronaldo”. Acho que as estrelas só brilham porque têm rápidos momentos entre a treva e a luz. E Ronaldo foi um homem brilhante.
Na cobertura do enterro, em Campina Grande, em meio a toda correria, colhi do chão 2 cápsulas dos tiros disparados durante as honras militares. Entreguei uma para o Príncipe que virou Rei e disse para Cássio: Guarda!! Esta é a bala da paz!!!
Na segunda-feira (8), na hora do almoço, exigi que meu filho Matheus, que nasceu em 92, assistisse a toda cobertura para conhecer a história de Ronaldo. Como diria Gerardo Rabello: Só quem não viu foi Gabriel (15) porque está na Disney.
Ronaldo descansa Grande como Campina e humilde como aquele homem que saiu da cidade de Sousa para participar do adeus ao poeta, quebrou o protocolo e o silêncio e ousou fazer o último discurso para um dos maiores oradores que a Paraíba e o Brasil conheceram.
Poetas são todos do mesmo tamanho… e, em respeito a Carlos Drummond de Andrade ou ao centenário do Eu, não vou exagerar em dizer que Ronaldo foi o maior poeta do mundo.
Não posso deixar de registrar aqui a minha emoção quando Ronaldo Cunha Lima Filho, em meu nome, via twitter, agradeceu as inúmeras mensagens de solidariedade recebidas pela família.
Naquela hora, ao responder e agradecer para Ronaldinho senti como se lá no céu, o poeta já tivesse encontrado o meu pai e percebendo que o velho Sales era meu fã número um, tocou o coração de “Ronaldinho” para escolher esta mera repórter, na hora de agradecer pelas mensagens dos incontáveis fãs do o poeta.
Tremi e chorei porque sou intensa! Tremi e chorei porque sou Nelma Figueiredo. Ouvi do cinegrafista Walter Júnior, que cobriu comigo o enterro do poeta: Você é uma máquina de fazer jornalismo, como botão de rir e de chorar!!!
E só consegui responder: máquinas não choram!!!
Não sei se consegui explicar. Mas tenho certeza de quem é intenso ou o poeta entendeu.

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OPINIÃO DA BLOGUEIRA
Essa é a Nelma Figueiredo que tive o privilégio de conhecer. Intensa, verdadeira, simples e, acima de tudo, desprovida de qualquer tipo de 'estrelismo' como muitos que trabalham na TV. Sou fã incondicional dessa mulher e profissional completa que é Nelma.








Rosélia Santos

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