28 de abril de 2013

FRASES FAMOSAS QUE JAMAIS FORAM DITAS


Circulam por aí frases jamais ditas e não raro atribuídas a alguém que não seu autor. O que produz algo insólito: pode acontecer que a frase mais conhecida de um autor não seja de sua autoria.
É o caso do recente chiste de Obama, que teria chamado Lula de “o cara”. O equívoco foi consagrado pelo retratado e seus marqueteiros, sequiosos de fama e fortuna e, no fundo, movidos por aquilo que Nelson Rodrigues chamava de “complexo de vira-lata”. Não há nada que encante mais a brasileiros – rendendo popularidade – do que elogios vindos do exterior.
Obama não disse que Lula é o cara. Referiu-se a ele como “my man” – em português, algo como meu chapa. No entanto, para todo o sempre será repetido que Obama o chamou de o cara. Pegou, não tem jeito, não desgrudará jamais.
O mesmo se deu com a frase que todos pensam ter ouvido no filme Casablanca: “Play it again, Sam.”. A verdade é que essa frase não é dita no filme. Ilse (Ingrid Bergman) diz: “Play it once, Sam, for old time sake. Play it, Sam. Play As Time Goes By”.E Rick (Bogart) pedirá a Sam: “You played it for her, you can play it for me.
Como se vê, a versão é bem melhor do que o fato. “Play it again, Sam” tem a força dos diálogos fulminantes, contundentes, definitivos. Por isso a frase consagrou-se e todos juram que a ouviram.
Quando Jânio Quadros renunciou, em agosto de 1961, talvez depois de uma dose mal calculada de Johnny Walker, teria dito que fora levado àquele ato por “forças ocultas”. Ótima expressão, mas, ainda que Jânio fosse cultor de um vocabulário rebuscado e pedante, ou por isso mesmo, não a cunhou. E tentou desmentir, diga-se, sem sucesso. Consagrou-se a expressão forças ocultas, bem melhor, aliás, do que tais “forças terríveis” que Jânio de fato usou.
O mesmo acontece com certas interpretações dadas como definitivas. Arthur Clark, em 2001, uma odisséia no espaço, deu ao computador da história o nome de HAL. Os paranóicos de plantão, imaginando conspirações por toda parte, sacaram a exegese perfeita: seria uma referência à IBM, o monstro multinacional da época, pois o nome HAL é formado pelas letras que no alfabeto antecedem as letras IBM. De nada adiantou Arthur Clark desmentir, por escrito ou em entrevistas diversas, explicando que HAL significava apenas Heuristic Algorithmic. Consagrou-se, não há o que fazer. O próprio Clark cansou de desmentir. Desconfio que no fundo aceitou a versão.
Há equívocos muito antigos, vindos do século XVI, como a frase “Mateus, primeiro os teus”. É citada como sendo da Bíblia. Não é. Aliás, é pouco compatível com o ideário altruísta da religião. A explicação do equívoco está num livrinho de João Ribeiro, Frazes feitas, de 1901, onde ele diz que se trata de uma criação popular moldada sobre o vocábulo medês (mesmo): “começar por si medês a caridade”. Mas Ribeiro lembra que Mateus, antes de se converter, teria sido agiota. Logo, a invenção popular pode ser a melhor.
O general De Gaulle, quando da Guerra da Lagosta entre França e Brasil, teria dito que o “Brasil não é um país sério”. Se não disse, deveria ter dito, pois de qualquer forma a frase se consagrou. É claro que ele desmentiu – mas quem leva a sério desmentidos de políticos? O fato é que a frase, apoiada no mesmo complexo de vira-lata que habita corações e mentes de brasileiros, ficou para sempre.
Por fim, um exemplo clássico. Quando se fala em Sherlock Holmes, há sempre quem dispare a frase perfeita: “Elementar, meu caro Watson”, que não consta de nenhum livro de Connan Doyle, o criador de Sherlock Holmes. Aliás, sendo o narrador das aventuras de Sherlock, o doutor Watson não daria essa mancada. Foi inventada pelo cinema e, tire-se o chapéu, é ótima. Doyle assinaria.
 
Fonte: criaredicoes.com.br/
Por: Roberto Gomes

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